A era de ouro da mineração
20/01/08
Como a extração de cobre e ferro mudou a realidade do Pará e criou a cidade mais dinâmica do PaísSudeste do Pará. Esta terra quente instalada nos rincões do Brasil, mundialmente conhecida pelo lendário garimpo de Serra Pelada e pelos violentos conflitos fundiários que por lá aconteceram, vive o início de uma revolução provocada pela mineração. Casas de madeiras são paulatinamente substituídas por construções de alvenaria, o asfalto toma conta das velhas estradas de chão batido e sua população, que já foi de maioria analfabeta, esforça-se para diminuir ainda mais o índice hoje na casa dos 20%. Reflexos de um crescimento econômico de quase 100% em apenas quatro anos nos sete municípios de área de influência da Vale, que tiveram sua participação no PIB estadual elevada de 12% para 32%, quase o mesmo peso da capital Belém (40%), graças ao novo ciclo econômico capitaneado pela Vale.Agora, a segunda maior mineradora do mundo prepara-se para completar sua atividade local com 11 novos projetos, que, somados às minas de ferro e à de cobre já em operação, consumirão investimentos de R$ 25,6 bilhões, criarão mais de 400 mil empregos e farão este pedaço do País crescer 18,26% até 2010. Para não se perder na rota deste crescimento explosivo, os municípios preparam políticas públicas apoiados pela mineradora. Canaã dos Carajás se destaca e promete ser um projeto-modelo para o Estado por ter conseguido unir empresários, poder público e comunidade na criação de um planejamento estratégico que traz as diretrizes dessa evolução para os próximos anos de maneira minuciosamente sistematizada.MÁRCIO GODOY, DIRETOR DA VALE: a companhia investirá R$ 2,5 bilhões em 11 novos projetos na região Quando chegou a Canaã dos Carajás há cinco anos, Clécia Medrado encontrou uma cidade com poucas opções de trabalho. Com dois filhos pequenos e recém-separada, buscava alguma ocupação no comércio e, como não encontrou, meteu-se na cozinha. Hoje, aos 28 anos, é dona de três restaurantes e fatura R$ 350 mil por mês. ?Parece muito, mas preciso investir grande parte em melhorias. Só assim é possível fornecer para a Vale?, disse ela. Clécia é uma beneficiada indireta da mineração. Desde o início das operações da Mina do Sossego, de onde a Vale extrai 120 mil toneladas de cobre por mês, Canaã tornou-se o município brasileiro que mais cresce, com a surpreendente taxa de 1.338% de 2002 a 2005. A base é, de fato, pequena. Em 2002, o PIB do município não passava dos R$ 43 milhões. ?Para vir para cá era preciso ser guerreiro?, diz Valdivino Rodrigues do Prado, pioneiro e atual secretário de Desenvolvimento Econômico. Não havia banco, fórum ou biblioteca. A base da economia era a agropecuária. A violência, alta. Mais de 52% de sua população ainda é composta por homens e 52,3% estão na faixa etária dos 18 aos 39 anos.Aos poucos esse retrato está mudando e serve de reflexo para a revolução em curso no sudeste paraense. Uma escola particular, um hospital com inéditas Unidades de Terapia Intensiva e a Casa de Cultura com teatro e biblioteca construídos pela mineradora ajudaram a completar e a desafogar a infra-estrutura pública. Cerca de 68% da cidade passou a ser abastecida com rede de água, 70% com rede de esgoto. Nos municípios vizinhos de Marabá e Eldorado do Carajás esse índice ainda é de 0%. Hoje, 36% dos moradores têm carteira assinada e 90% declaram a cidade como moradia permanente, contra 69% de 2003. A questão fundiária, no entanto, ainda é um problema. Nenhum morador possui escritura de terra. ?Em 90 dias essa questão estará regularizada?, promete o prefeito da cidade, Joseilton Nascimento, conhecido como Ribita. Sem o documento, pleitear empréstimos para o comércio local é impossível. Só cresce quem tem dinheiro em caixa. Exemplo de Rafael Peres, que por volta de 2002 saiu de Minas Gerais para construir um supermercado com o irmão em Canaã. Com o crescimento da cidade, está ampliando a loja de 300 m2 para 1.150 m2. O capital é próprio. ?A Vale vai investir muito nesta região. Queremos estar preparados para atendê-la e aos seus fornecedores?, admite ele.O supermercado de Rafael fica próximo ao centro industrial idealizado pela prefeitura. Um espaço de 50 mil m2 que abrigará 34 empresas de médio e pequeno porte e outras nove de grande porte que ganharão infra-estrutura pronta. ?Não temos como abrir mão de receitas, por isso não há meio de conceder benefícios fiscais?, explica Ribita. Cerca de R$ 3,5 milhões serão investidos no novo pólo, que já tem expansão planejada para julho. Manobras para promover o crescimento econômico como estas antes eram impossíveis. A receita da prefeitura em 1997 era de apenas R$ 80 mil. No ano passado chegou a R$ 3,5 milhões. Segundo cálculos da própria Vale, a companhia deve gerar uma arrecadação de R$ 3,3 bilhões para os municípios de Canaã dos Carajás, Parauapebas, Marabá, Curionópolis e Eldorado do Carajás nos próximos três anos e aumentar a massa salarial da região de R$ 45,5 milhões para R$ 455,5 milhões em 2010.Com um impacto econômico tão forte, a Vale encabeçou um projeto para não deixar os municípios influenciados pela mineração completamente à sua sombra. Projetos de capacitação profissional fomentam artesanato, agricultura e pecuária. ?Queremos deixar o município preparado para a era pós-Vale?, diz Márcio Godoy, diretor de Operações de Cobre, admitindo, porém, que essa era dificilmente acontecerá antes dos próximos 200 anos.
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