Fabricante de insumo prepara novos reajustes
09/03/07
O aquecimento do mercado interno e a pressão nos custos devem inaugurar uma onda de alta nos preços de insumos e matérias-primas, especialmente as de uso industrial como aço, resinas plásticas e papel, a partir de abril. No setor siderúrgico, já há casos de sucesso em negociações, como em alguns contratos de chapas grossas da Usiminas. Na cadeia petroquímica, os fabricantes mantêm o suspense sobre o preço das resinas a partir do próximo trimestre e causam preocupação aos transformadores plásticos.
A alta demanda por chapas grossas no início do ano foi ocasionada pelas encomendas de tubos de grande diâmetro para o projeto Gasene, da Petrobras, e a ampliação dos sistemas norte e sul da rede de gasodutos da Argentina, feita pela Nación Fideicomisos. A demanda aumentará nos próximos meses, com a assinatura do contrato para a construção de dez navios da Transpetro. O diretor de Comercialização para o Mercado Interno da Usiminas, Idalino Coelho Ferreira, explica que a empresa tem capacidade de atender a todos os pedidos, e já obteve êxito em negociações de reajustes de preço. ?As discussões são feitas caso a caso, com cada cliente, mas conseguimos sucesso em algumas delas.?
Segundo o executivo, o Sistema Usiminas tem capacidade para produzir 1,8 milhão de toneladas de chapa grossa por ano. Em 2006, a demanda do mercado doméstico foi de 1,15 milhão de tonelada. As 650 mil toneladas restantes foram direcionadas ao mercado externo, ficando acima do volume estratégico da Usiminas, que é de exportar 20% da produção. ?Neste ano iremos direcionar o excedente para o mercado doméstico?, diz Ferreira. Assim, a empresa deverá aumentar seus ganhos, pois segundo alguns distribuidores os preços locais estão acima dos internacionais.
Outro setor que entrará nas mesas de negociações de reajuste de aço é o automotivo. O Sistema Usiminas tem 70% de market share no segmento que, de acordo com Ferreira, registrou pedidos cerca de 12% superiores nos dois primeiros meses do ano. Segundo ele, além do aumento nas encomendas, o reajuste do preço das matérias-primas também será levado em conta na hora das negociações. O minério de ferro, principal insumo utilizado na fabricação do aço, foi reajustado em 9,5% pelas mineradoras no final do ano passado.
Na cadeia petroquímica, a onda de reajustes que afetou os transformadores plásticos no terceiro trimestre de 2006 e que dava sinais de estabilidade pode estar com seus dias contados. O assunto ?reajuste? voltou à mesa dos executivos nas últimas semanas, em decorrência da valorização do preço do barril do petróleo e, conseqüentemente, da nafta, principal insumo utilizado na cadeia petroquímica nacional.
As fabricantes ressaltam que é crescente a demanda por resinas nos mercados interno e externo, tanto que empresas como Ipiranga Petroquímica, Braskem e Suzano Petroquímica trabalham com previsões de que o mercado de resinas cresça, em volume, entre 10% e 15% este ano. Esse fator, aliado à variação do petróleo e da nafta, cria um cenário propício para novos reajustes.
O presidente da Braskem, José Carlos Grubisich, quando questionado sobre a possibilidade de um novo reajuste, afirmou que o preço deve ser mantido até o final do primeiro trimestre, sem revelar qual será a trajetória nos meses seguintes. Posição semelhante adotou o o diretor-superintendente e relações com investidores da Ipiranga Petroquímica, Alfredo Lisboa Tellechea.
O valor das resinas, que apresentou leve queda em novembro e dezembro, segundo dados da consultoria MaxiQuim, apresentou estabilidade no início do ano, o que pode indicar uma reversão desse cenário. Já o preço médio da tonelada de nafta, que chegou a US$ 510 em novembro de 2006, deverá alcançar os US$ 545 ao final deste mês, segundo estimativas da consultoria.
A analistas do setor, Grubisich disse que a relação ajustada entre oferta e demanda mundial manterá o preço do petróleo a níveis superiores a US$ 55 o barril ? chegou a ficar abaixo de US$ 50 em janeiro passado. Por isso, a alta nos preços do petróleo poderá chegar aos transformadores em breve. ?As petroquímicas alegam que, se o preço da nafta subir, eles precisarão repassá-lo aos clientes?, diz o presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Embalagens Plásticas Flexíveis (Abief), Rogério Mani. É possível que o repasse seja de 5% a 6%, em média.
O chefe de compras da Plascar, Irineu Donegal, destaca que os reajustes no preço do petróleo e na nafta levam cerca de três meses para chegar ao valor pago pela fabricante de peças plásticas usadas na indústria automobilística às petroquímicas. Nesse caso, ressalta o executivo, é possível que o aumento chegue à fabricante entre maio e junho. Por enquanto, no entanto, Donegal não vê sinais de reajuste e revela que ainda há empresas tentando negociar reduções no valor das resinas junto às petroquímicas.
O discurso dos transformadores contrasta com a postura adotada pelo setor no final de 2006, quando os consecutivos repasses de resinas provocarem os protestos da indústria. À época, havia a reclamação de que o reajuste nos insumos chegava em um momento de queda no preço do petróleo e que, por isso, as petroquímicas deveriam reduzir os preços. Agora, no entanto, o setor se limita a pedir que não haja novos reajustes. ?Não há cenário, no momento, para um novo reajuste?, diz o presidente da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast), Merheg Cachum.
Papel e celulose
No caso do mercado de celulose, usada na fabricação de papéis e direcionado principalmente ao mercado externo, a perspectiva de analistas é de que o preço se mantenha estável, por enquanto, uma vez que houve aumento de US$ 20 por tonelada no produto oferecido ao exterior. O aumento de 2006, no entanto, já chegou ao papel. A Klabin comunicou aos clientes internacionais o aumento de 20 euros por tonelada no preço do papel kraftliner em março, e outro idêntico em abril.
DCI