Norte-Sul já é da Vale
04/10/07
A Companhia Vale do Rio Doce demorou pouco menos de cinco minutos para arrematar os 720 quilômetros da Ferrovia Norte-Sul, entre Açailândia, no Maranhão, e Palmas, no Tocantins. Sem concorrentes, a mineradora ofereceu o preço mínimo, de R$ 1,478 bilhão, e levou o maior empreendimento ferroviário concedido no País desde a privatização, na década de 90. Agora, a Vale passa a deter a concessão de quatro ferrovias: Centro-Atlântica, Estrada de Ferro Carajás, Estrada de Ferro Vitória-Minas e Norte-Sul. Com isso, a empresa contará com 9.890 quilômetros, considerando a Norte-Sul construída até Palmas (TO). Até 2006, as ferrovias da mineradora transportavam 239 milhões de toneladas úteis de produtos, como minério, soja e farelo, produtos siderúrgicos e combustíveis, entre outros. Na Norte-Sul, a expectativa é de que o volume transportado atinja 8,8 milhões de toneladas em 2013, afirma o diretor de Logística da companhia, Eduardo Bartolomeo. Segundo o executivo, neste ano a ferrovia, que já opera entre Porto Franco e Açailândia, deve movimentar 1,7 milhão de toneladas de grãos, a maioria soja. Para conseguir atender à demanda projetada, a Vale pretende investir R$ 416 milhões. Desse total, R$ 66 milhões serão gastos em infra-estrutura, como sinalização, oficinas e postos de abastecimento, entre 2007 e 2010. O restante será usado na compra de 45 locomotivas e 550 vagões. A Vale já opera a estrada de ferro com 450 vagões. Segundo Bartolomeo, por enquanto, a companhia não pensa em colocar trens de passageiros nos trilhos da Norte-Sul. Ele explicou que isso poderá ocorrer futuramente, mas dependerá de autorização da Agência Nacional de Transporte Terrestre (ANTT). Ele disse esperar que a Valec entregue as obras dentro do cronograma. A ferrovia está pronta no trecho entre Açailândia (MA) e Araguaína (TO). A previsão é que as obras até Palmas sejam concluídas até 2009. O presidente da Valec, José Francisco das Neves, garante que o cronograma será cumprido. “Só estava faltando o dinheiro. Agora já temos”, disse ele. As obras continuam nas mãos da Valec, que usará o dinheiro do leilão na construção. Sobre a falta de concorrentes na subconcessão, o diretor disse que o processo estava aberto e a ferrovia está alinhada com as estratégias da empresa. No Espírito Santo, onde participava da inauguração do escritório da Vale em Vitória, o presidente da mineradora, Roger Agnelli, rebateu as acusações sobre a prática de monopólio pela empresa. Como principal peça de defesa ele usou o fato de que a Vale foi a única a se inscrever para participar do leilão da Ferrovia norte-sul. “Só a Vale compareceu para viabilizar a Norte-Sul. Depois que está pronto, é fácil dizer que a Vale é monopolista”, protestou o empresário, argumentando que a ferrovia leiloada ontem é uma continuação da Estrada de Ferro Carajás, na qual a companhia vem investindo em projetos de expansão. “A Norte Sul é um prolongamento da Carajás. É fundamental para o desenvolvimento daquela região”, afirmou Agnelli. Norte-Sul. O presidente da estatal Valec, José Francisco das Neves, o Juquinha, anunciou ontem que um novo trecho da Ferrovia Norte-Sul deverá ser leiloado em março do ano que vem. Trata-se do trecho Palmas (TO) – Aparecida do Taboado (MS), com cerca de mil quilômetros. Até então a expectativa era que a Norte-Sul terminasse em Anápolis, no Estado de Goiás. Mas ele afirmou que o traçado deve ser estendido até o Mato Grosso do Sul. Assim, a ferrovia superaria os 1.980 km previstos anteriormente, que ia de Belém (PA) a Anápolis (GO). O executivo explicou que, no momento, a empresa está fazendo o estudo de viabilidade econômica e social da obra. E, em breve, estará pronto. Ao contrário do leilão de ontem, o executivo acredita que o novo trecho vai despertar o interesse de outras empresas concessionárias já atuantes no setor ferroviário brasileiro. Entra elas, ele citou a MRS Logística e a América Latina Logística (ALL), além da Companhia Vale do Rio Doce. A explicação é que em Anápolis a Norte-Sul vai interligar com outras ferrovias, como a Centro Atlântica, da Vale, e a Ferronorte, da ALL. O diretor de Logística da Vale, Eduardo Bartolomeo, afirma que a empresa ainda não pensou na possibilidade de disputar esse outro trecho. “A Vale sempre investiu em infra-estrutura, pois é um negócio que está alinhado com as estratégias da companhia. Isso mostra nosso compromisso com o País e com o desenvolvimento da infra-estrutura”, destacou o executivo, completando que neste momento as atenções estarão voltadas para o trecho arrematado ontem. Bartolomeu avaliou que a Norte-Sul é um novo e importante corredor de exportação para carga geral, como soja, arroz, milho, combustíveis e fertilizantes, que dará maior competitividade ao produto brasileiro. Além disso, tem um apelo social significativo, pois vai fomentar a agricultura no cerrado brasileiro, cuja oferta de terras produtivas para o cultivo de grãos e açúcar é ampla. Vai ainda acelerar o desenvolvimento portuário do Maranhão, onde está o Porto de Itaqui. A expectativa da companhia é que o término da Norte-Sul e o desenvolvimento da região criem cerca de 50 mil postos de trabalhos diretos e indiretos, a partir de 2009.
Agência Estado