`Boom` do aço impulsiona nióbio
05/10/07
A CNPC, estatal de petróleo da China, começa no ano que vem a construir a segunda linha do gasoduto Oeste-Leste, uma das maiores obras de infra-estrutura do mundo, orçada em US$ 13 bilhões. No gasoduto que rasgará mais de 7 mil quilômetros do solo chinês para transportar o gás natural das ricas reservas do Oeste às ricas províncias do Leste, um ingrediente especial será misturado ao aço: o nióbio brasileiro. Para atender contratos desta natureza, a Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM), controlada pela Brasil Warrants, holding da família Moreira Salles, está investindo R$ 250 milhões para expandir sua capacidade de produção. Impulsionada pelo `boom` do aço, a mineradora prevê aumentar sua produção em 40%, até 2011, localizada em Araxá (MG). É a maior expansão da CBMM dos últimos cinco anos. “Temos uma avaliação de que a demanda pelo nióbio vai continuar crescendo”, diz o diretor-superintendente da CBMM, Tadeu Carneiro. “A economia mundial crescerá, e não dá pra crescer sem obras de infra-estrutura, onde o aço é o maior componente.” Na esteira da indústria siderúrgica vem o crescimento da demanda por ferro-nióbio, um mineral transformado em metal e utilizado por suas propriedades de elevar a resistência do aço. Montadoras têm comprado mais aço misturado ao nióbio a fim de tornar os carros mais leves e econômicos sem afetar sua resistência e segurança. Turbinas de aviões, fabricadas com aço e nióbio, agüentam mais a altas temperaturas. A expansão da CBMM será feita em duas fases. A primeira elevará a produção de 70 mil toneladas para 90 mil toneladas de ferro-nióbio, que deve ser completada no segundo semestre de 2008. A segunda aumentará para 110 mil toneladas anuais em 2010-2011.
Dependendo da tecnologia a ser adotada pelos fornecedores de aço na gigantesca obra da China, a CBMM poderá suprir 5 mil a 8 mil toneladas de ferro-nióbio. O fato é que os responsáveis pela obra na China aumentaram seu interesse pelo metal extraído das minas a céu aberto de Araxá, exigindo a adição de 1,1 quilo de nióbio por tonelada de aço, antes as 600 gramas misturadas durante a construção da primeira linha do gasoduto chinês. A CBMM atua na China desde o início dos anos 80. Segundo a CBMM, o mercado mundial movimenta hoje 80-85 mil de toneladas de nióbio por ano. “No pós-boom dos últimos cinco anos, a demanda cresceu 20% ao ano”, diz Carneiro. A previsão é que continue crescendo acima dos dois dígitos, diz o executivo. “Deve ficar próximo de 20%.” A CBMM, que deve faturar US$ 1 bilhão em 2007, exporta 93% de sua produção à Europa (35%), China (20%), EUA (20%) e Ásia exceto China (18%). A CBMM é responsável por 80% da produção do mundo e compete com a sul-africana Anglo American e a canadense Iamgold. O nióbio é vendido a US$ 28 por quilo, o quase o triplo do que valia há uma década. A tradicional indústria do aço corresponde a mais de 90% da demanda pelo nióbio, mas o executivo da CBMM vê uma tendência de uso mais intenso do metal além deste setor, onde atua praticamente sozinha. Na visão de Carneiro, o avanço das tecnologias tem permitido o ingresso do nióbio em áreas novas, como equipamentos de ressonância magnética, lentes de óculos e aparelhos de barbear, como o Mach 3, da Gillette. É quase imperceptível, mas há uma camada de 10 angstrom (1 nanômetro) de nióbio que funciona como uma cola entre o aço inoxidável e o DLC (diamond like a carbon) que faz com que a lâmina deslize suavemente sobre a pele.
Valor Econômico