Pará precisa investir mais em qualificação para aproveitar melhor os investimentos que estão chegando
22/11/07
No período de 2007 a 2010, o Pará deverá receber cerca de US$ 8,2 bilhões em investimentos (só no setor mineral serão US$ 5,18 bilhões), com a geração de 35 mil empregos. Se não houver uma melhor preparação da mão-de-obra e capacitação das empresas locais, muitas dessas vagas e oportunidades de negócios acabarão com trabalhadores e empresas de outros estados. O alerta é de David Leal, coordenador do Programa de Desenvolvimento de Fornecedores (PDF), da Federação das Indústrias do Pará (Fiepa), feito durante os debates desta terça-feira (20) da 2ª Conferência de Responsabilidade Socioambiental da Amazônia ? Mineração Sustentável, que o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram) promoveu em Belém.
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Representantes de empresas como a Companhia Vale do Rio Doce, Alcoa, Mineração Rio do Norte, Cadam/PPSA e Imerys detalharam os investimentos que têm feito para qualificar a mão-de-obra para seus empreendimentos. O deputado estadual Gabriel Guerreiro, com larga atuação nesse área, disse que não existe chance de se atingir o desenvolvimento sem um programa agressivo de educação e capacitação profissional. ?Não podemos transferir para as empresas a responsabilidade do Estado nessa questão, sob pena de darmos sustentabilidade ao subdesenvolvimento?, afirmou Guerreiro. João Menezes, gerente geral de Recursos Humanos do Sistema Norte da Vale do Rio Doce, disse que o desafio da empresa é regionalizar as contratações de profissionais na área onde atua. Nos últimos cinco anos a Vale fez 5 mil admissões na área de influência de Carajás, com a previsão de mais 7 mil vagas para os próximos cinco anos, podendo chegar a 12 mil. Mas a empresa tem encontrado na região um quadro com jovens e adultos sem qualificação e com baixa escolaridade, escassez de instituições de educação profissional e pouca cultura de trabalho formal. Segundo Menezes, a Vale tem aproveitado entre 10% a 20% das pessoas que são avaliadas pela empresa. Em Ourilândia do Norte, onde está sendo implantado o projeto de produção de níquel do Onça Puma, a empresa teve que recrutar pessoal local com ensino fundamental, diante da dificuldade de encontrar pessoas com o nível médio. Por isso a Vale tem investido recursos em parcerias com instituições como o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), Centro Federal de Educação Tecnológica (CEFET) e Universidade Federal do Pará (UFPA), para capacitar trabalhadores em todos os níveis em municípios onde a empresa atua, como Ourilândia do Norte, Parauapebas, Marabá, Canaã dos Carajás e Paragominas. Só a Valer ? Universidade Corporativa da Vale, já formou mais de 1.500 jovens no Pará pelo Programa de Formação Profissional. Esse problema de falta de mão-de-obra qualificada também foi enfrentado por outra grande empresa mineradora, a Alcoa, na implantação de seu projeto de produção de bauxita em Juruti, no oeste do Pará. Afinal, trata-se de um investimento de R$ 1,8 bilhão para a exploração de uma das maiores jazidas de bauxita do mundo, num município de apenas 35 mil habitantes, com uma renda per capita de R$ 55,18 e um IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) de apenas 0,63, o 114º entre os 143 municípios paraenses.
Mas dentro da meta de desenvolvimento a longo prazo de seu projeto, segundo seu gerente de sustentabilidade e assuntos institucionais, José Maurício Macedo, a Alcoa pretende qualificar 2.500 pessoas até o próximo ano, quando começa a produção de bauxita em Juruti. Ele informa que a empresa tem conseguido manter uma boa média de utilização da mão-de-obra local: são 82,34% de empregados do Estado do Pará, sendo 37% do próprio município. Além da capacitação profissional, a empresa procura investir também em programas de oportunidades de investimentos e fomento às atividades locais, principalmente na área rural, onde está a maior parte da população de Juruti. Esse trabalho com as comunidades também é realizado pela Cadam/PPSA nos municípios de Barcarena, Ipixuna e na divisa com o Amapá e pela Mineração Rio do Norte em Oriximiná. Apesar dos problemas, o PDF tem obtido bons resultados em seu objetivo de aumentar as oportunidades de negócios para as empresas locais, que resultem numa maior internalização de renda, geração de emprego e ?colaborando na formação da empresa sustentável?, como destacou David Leal. Em relação ao volume de compras, por exemplo, em 2004, dos R$ 819 milhões adquiridos pelas grandes empresas, a participação local era de 37%. No ano passado a participação foi de 46% sobre o volume de compras de R$ 2,60 bilhões dessas empresas. E os empregos gerados passaram de 33 mil em dezembro de 2004, para quase 57 mil em dezembro do ano passado. E o coordenador do PDF anunciou que na próxima segunda-feira (26) a Fiepa vai assinar um convênio com o governo do Pará para a capacitação de 17 mil trabalhadores no Estado em 2008.
Pará Negócios