EXCLUSIVO: Três perguntas sobre ?mineração sustentável?
22/11/07
O Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram) realizou, nesta segunda e terça-feiras, a 2ª Conferência de Responsabilidade Socioambiental da Amazônia ? Mineração Sustentável, em Belém (PA). O evento concretizou parte da estratégia de trabalho da entidade para a região Norte, segundo ela orientada no sentido da ampliação do diálogo com as mais diversas instituições da Amazônia, por intermédio de debates sobre temas afeitos à indústria de mineração, como desenvolvimento sustentável, educação e formação profissional, saúde e segurança do trabalho, entre outros.AmbienteBrasil enviou, por e-mail, ao diretor de Assuntos Ambientais do Ibram, Rinaldo Mancin, as perguntas cujas respostas estão a seguir. AmbienteBrasil – Em agosto do ano passado, quando da realização da primeira conferência, Eduardo Martins, mestre em ecologia pela Universidade de Brasília e ex-presidente do Ibama, foi um dos palestrantes. Segundo ele, “a mineração oferece inúmeros exemplos de responsabilidade social e ambiental”. Quais seriam os mais ilustrativos desses exemplos na esfera ambiental? Rinaldo Mancin – Importante destacar que o Ibram representa a mineração empresarial no Brasil, setor representado pelas empresas legalmente estabelecidas, que paga impostos, gera milhares de empregos e responde pela liderança da balança comercial nacional. Conduzir os negócios atendendo às exigências da competitividade local e global, ao mesmo tempo contemplando conceitos de sustentabilidade, representa hoje um dos grandes desafios do setor empresarial comprometido com a responsabilidade social e o desenvolvimento sustentável.A mineração brasileira foi um dos setores que mais cedo conseguiu compreender a importância de pautar as suas ações pela sustentabilidade, o que facilmente se explica, uma vez que seus processos produtivos são caracterizados por interações mais intensas entre meio ambiente e sociedade, muitas vezes conflituosas. Um dos bons exemplos no setor é a gestão de ativos ambientais. Para exemplificar, ocorre que a mineradora obtém uma concessão mineral, por exemplo de 1.000 ha, sendo que a empresa explora apenas 5% dessa área, porém assume responsabilidade pela conservação de toda área. Isto representa desmatamento evitado, emissão de carbono evitada, serviços ambientais garantidos, dentre outros benefícios. Pouca gente sabe, mas a mineração brasileira é responsável pela conservação de áreas imensas, em todas as regiões, com destaque grande para a Amazônia. No campo socioeconômico, há que se entender que as mineradoras, ao se instalarem nas localidades, funcionam como catalizadoras de processos de desenvolvimento local e regional, ativando e articulando as cadeias produtivas de diversos setores. Isto representa geração de emprego e renda, melhoria da qualidade de vida, incrementos dos serviços públicos. Para cada emprego direto na mineração, outros 13 são gerados na cadeia produtiva.Cresce também no setor o número de empresas que passam a adotar programas de gestão ambiental, a exemplo das normas ISO e OSHA. Vemos com clareza que as variáveis sustentabilidade e responsabilidade passam a fazer parte real da estrutura de governança das empresas. AmbienteBrasil – A mineração sempre foi uma atividade classificada como causadora de grandes impactos ambientais. Até que ponto a tecnologia tem conseguido minimizar esse quadro? Rinaldo – É verdade que o setor teve um passado complexo. Ao contrário das imagens que são divulgadas sobre o caráter predatório da extração de minérios, muitas delas baseadas nas piores práticas do setor (por exemplo, as imagens de campos lunares que resultam do garimpo em áreas com reservas de metais preciosos), a mineração empresarial convive adequadamente com as regras da sustentabilidade ambiental. Esta convivência ocorre por causa de diversos motivos: o conceito ampliado de ecoeficiência incorporado nos processos produtivos das empresas de mineração; a adoção da concepção de responsabilidade social no seu processo de planejamento estratégico; as exigências dos mercados internacionais por produtos ambientalmente amigáveis; etc.Com a evolução dos padrões ambientais e com a sua internalização efetiva nas empresas, o cenário atual é muito positivo. Também é importante destacar que os impactos ambientais da mineração são localizados e mitigáveis, uma vez que as áreas de mineração são bem pequenas. Se tentarmos comparar, por exemplo, com produção de soja, para cada Real gerado em um hectare com a mineração, seriam necessários no mínimo 30ha de soja para se obter os mesmos resultados econômicos. Se num passado recente a inteligência ambiental estava no Governo e depois nas ONGs, hoje as empresas investem milhões em programas ambientais, contratam os melhores técnicos do mercado, compram os melhores equipamentos.A tecnologia evolui dia a dia. O que era rejeito da mineração há bem pouco tempo atrás, hoje é matéria-prima de alta qualidade e disputada no mercado. Um exemplo bem recente temos na cidade de Catalão, Goiás, onde a Anglo American, associado do Ibram, está implantando o Projeto Tailings, que consiste no aproveitamento integral de outrora rejeitos de ferro-nióbio, o que tem representado ganhos expressivos do ponto de vista ambiental e de consumo de recursos naturais. AmbienteBrasil – Em novembro passado, o Ibram lançou, em parceria com a Agência Nacional de Águas (ANA), a obra A Gestão de Recursos Hídricos e a Mineração. O trabalho teve, como um de seus objetivos apregoados, “desmistificar algumas premissas equivocadas a respeito dos impactos da mineração sobre a água”. Quais seriam essas “premissas equivocadas”?Rinaldo – É quase impossível minerar sem utilizar recursos hídricos. São poucos os processos produtivos ?a seco?. Esta é a realidade no setor. Como sabemos, o Brasil possui uma das políticas mais avançadas para a gestão de recursos hídricos, que já vem sendo implantada há 10 anos. Dentro desta nova visão, com a cobrança dos recursos hídricos, este item começou a ser uma das variáveis mais importantes para composição dos preços dos minérios. A premissa equivocada era que a mineração esbanjava os recursos hídricos, o que não é verdade. Muito ao contrário, o setor vem incorporando visões modernas sobre a gestão de recursos hídricos. Hoje temos empresas como a CVRD, que reutilizam acima de 90% de água utilizada em seus processos produtivos. Outra empresa interessante é a Samarco, que opera um mineroduto de mais de 400 Km e que dispõe até de outorga de recursos hídricos.
Ambiente Brasil