Vale: apta a concorrer com as mais qualificadas em alumínio
26/11/07
Sergio Zacchi / Valor
Albuquerque Silva: redução do retrabalho contribui para melhorar os resultadosA trajetória que levou a Albras à conquista do Prêmio Nacional da Qualidade (PNQ), em 2007, começa na verdade em 1989. Aquele foi o ano em que a maior produtora de lingotes de alumínio do Brasil, controlada pela Companhia Vale do Rio Doce, introduziu nos processos produtivos e no dia-a-dia dos trabalhadores a metodologia Total Quality Control (TQC). Essa foi a primeira iniciativa, entre várias que se seguiram, abrindo caminho para outras certificações na década de 90, até receber agora o reconhecimento máximo da Fundação Nacional da Qualidade (FNQ).Para o presidente da Albras, Reinaldo Castanheira, a premiação veio comprovar a solidez do modelo de gestão da empresa e a existência de um grupo de líderes muito comprometidos com os rumos da companhia. “É muito importante que tenhamos sido testados num processo transparente, feito de forma independente”, afirma o dirigente. Em sua opinião, a comemoração pela conquista do Prêmio Nacional da Qualidade ultrapassa os contornos da empresa, pois traz reflexos positivos também para o país, na medida em que “o Brasil pode se orgulhar de possuir uma produtora de alumínio com competitividade internacional”, afirma Castanheira. Carol Carquejeiro / Valor
Reinaldo Castanheira, presidente da Albras (centro), e seus funcionários: “É muito importante que tenhamos sido testados num processo transparente, feito de forma independente” A fábrica da Albras está instalada desde 1985, ano de sua fundação, numa área de 1,5 milhão de metros quadrados no município de Barcarena, a 40 quilômetros de Belém, capital do Pará. Lá trabalham 1.352 funcionários. A administração da empresa foi buscar no método japonês 5S o caminho para mudar sua rotina de processos, em busca da excelência operacional. Introduzida no Japão após a Segunda Guerra Mundial, essa ferramenta, de acordo com o gerente de administração Paulo César Albuquerque Silva, possibilitou a adoção de uma série de procedimentos para gestão de pessoas e a estruturação dos mecanismos de controles de qualidade. Isso tudo acompanhado por um processo de disciplina no trabalho, a partir dos cinco “sensos” da sigla: utilidade, ordenação, limpeza, saúde e autodisciplina. Psicólogos e Debates A aplicação desses conhecimentos permitiu que pouco tempo depois, a Albras pudesse avançar em direção à certificação da qualidade de seus processos. Isso ocorreu em 1995, quando a empresa obteve o certificado ISO 9000, a primeira comprovação de que já podia figurar entre as melhores do setor de metalurgia. No ano seguinte, implantou o Programa de Círculos de Controle de Qualidade (CCQ). O aperfeiçoamento dos processos produtivos, por meio das ações do CCQ trouxe reflexos positivos ao ambiente da empresa. “Sobretudo porque houve uma redução da carga de retrabalho, fator que contribuiu para melhorar os resultados”, afirma Albuquerque Silva. Outra vantagem que a aplicação do programa trouxe foi dar maior transparência nos processos de gestão de pessoas e nas avaliações de desempenho. Para dar uma virada na administração de pessoal, a diretoria da Albras adotou um tratamento de choque. Contratou psicólogos e promoveu encontros para reproduzir certos relacionamentos entre chefes e subordinados. Dessa iniciativa que envolveu toda a organização resultou o lema: “Quem vive a situação sabe melhor a solução”. Criou-se assim uma cultura de debate, informação e contatos diretos entre a direção e os funcionários. A Albras tem como um de seus pontos fortes a área de benefícios. A empresa oferece vários recursos para qualificação profissional. De bolsas de estudo para cursar faculdade a treinamento técnico especializado em diferentes áreas. A adoção de boas práticas levou a Albras a figurar entre as primeiras colocadas da pesquisa “As Melhores na Gestão de Pessoas” de Valor Carreira, em 2006.Em pouco mais de 20 anos de existência, a Albras praticamente quadruplicou sua produção de lingotes de alumínio, que passou de 160 mil toneladas para 455 mil toneladas, sendo que nos últimos três anos foram atingidos recordes de produção. Esses resultados, segundo o presidente da Albras, foram obtidos graças aos investimentos feitos em automação industrial e aprimoramento dos processos produtivos. “Conseguimos aumentar a capacidade de produção com muito menos investimentos e uma estrutura mais enxuta”, diz. A meta da companhia agora é firmar-se no mercado internacional e assumir a liderança entre as empresas de lingotes de alumínio. O plano é fazer com que isso ocorra até 2010.
Para Castanheira, trabalhar com gente motivada e bem treinada é fundamental para que os resultados sejam alcançados dentro de um padrão de excelência em qualidade. Isso vale sobretudo para as questões ambientais. A Albras segue uma política que, em alguns casos, estabelece exigências que vão além do que está previsto na legislação. É o que acontece, por exemplo com as emissões de poluentes. “Falamos nos limites legais, e nos limites da fábrica, que na verdade são mais rigorosos”, explica Castanheira. Este ano, por exemplo, a fabricante de alumínio está aprovando um projeto para a geração de créditos de carbono, em função de melhorias nos seus processos de produção.Certificada com a norma ISO 14001, a Albras realiza periodicamente um levantamento para identificar as necessidades de investimentos e também as áreas que estão desatualizadas com relação às normas ambientais. “Não podemos estar desatualizados, temos que dar o máximo de segurança ao nosso negócio”, diz o gerente Albuquerque Silva.A empresa exibe desde 2001 a certificação mais respeitada de saúde e segurança no trabalho, a OHSAS 18001. A experiência da Albras nessa área é reconhecida em diversos fóruns e eventos de recursos humanos. Do calendário de eventos da empresa fazem parte várias jornadas de workshops e palestras sobre segurança no trabalho, a Comissão Interna de Prevenção de Acidentes está empenhada em desenvolver uma cultura que incentive os funcionários a levar as boas práticas para fora do horário de expediente. Esse trabalho é feito a partir dos Diálogos Diários sobre Segurança. Todos os dias, antes da troca de turno, os funcionários se reúnem em grupos para conversar sobre o tema.Transporte por Barcas A planta da Albras, em Barcarena, é um bom exemplo de como a empresa elegeu a qualidade de vida dos funcionários como uma de suas prioridades. Para transportar os trabalhadores que moram em Belém, a companhia criou um sistema de barcas e um deck próprio. Dessa forma é possível ligar as duas cidades que estão às margens do rio Pará. Na fábrica, para tornar o ambiente mais agradável aos colaboradores, foram criados espaços para lazer, prática de atividades esportivas e culturais. O Programa de Qualidade de Vida é outra iniciativa exemplar. Uma equipe de médicos, nutricionistas, psicólogos, entre outros profissionais, orienta os trabalhadores e seus familiares a aderirem a uma rotina mais saudável, melhorando a alimentação e abandonando o sedentarismo. Há até uma academia de ginástica gratuita para quem está disposto a se exercitar para perder peso. Na área cultural, os funcionários podem desenvolver várias atividades. A empresa patrocina aulas de violão, fotografia e arte. O clube de teatro, do qual fazem parte 80 pessoas, tem à sua disposição um diretor profissional.Em 2005, a preocupação com a saúde de seus funcionários rendeu à empresa o Prêmio Valor Social na categoria “Qualidade do Ambiente do Trabalho”, pelo programa Vida Saudável, que ajuda a combater o estresse dos colaboradores. A relação com a sociedade é outro ponto que recebe toda a atenção da companhia. Em 2002, a empresa obteve a certificação SA 8000, que atesta a qualidade das atividades nessa área. A política de responsabilidade social da empresa estabelece o compromisso de apoiar diversos projetos, sem contudo, criar relações de dependência com as comunidades. Exemplo disso ocorre na Vila dos Cabanos, núcleo urbano construído para abrigar funcionários que vivem em Barcarena. Lá foi desenvolvido um programa de reciclagem de todo o lixo produzido. Com recursos do BNDES, a Albras construiu uma usina de reciclagem e compostagem. O investimento total é de cerca de US$ 1 milhão.Unidades semelhantes foram implantadas nos municípios de Moju, Abaetetuba, Igarapé-Miri. O projeto gera 180 postos diretos de trabalho, beneficiando ao todo cerca de 200 mil pessoas com melhores condições de saneamento. Uma nova unidade foi inaugurada na cidade de Cametá. Aos antigos “catadores” dos lixões são oferecidos empregos nas unidades de tratamento do lixo e oportunidades de desenvolvimento, com cursos para alfabetização de adultos, de informática e outros.Em comunidades carentes mais próximas da fábrica, a Albras realiza um programa voltado para a agricultura familiar. O objetivo é oferecer condições básicas para que os produtoras rurais desenvolvam suas atividades em melhores condições, produzindo mais e melhor. O programa é desenvolvido em convênio com a Prefeitura de Barcarena e tem apoio da Embrapa/Amazônia Oriental. As famílias colhem produtos como feijão, mandioca e maracujá. Um agrônomo contratado pela empresa presta orientação técnica aos agricultores.Além do estreito relacionamento com as comunidades próximas à fábrica em Barcarena, a empresa desenvolve parcerias com universidades, apoiando pesquisadores locais, como alunos de mestrado da Universidade Federal do Pará. Graças a esse apoio, os trabalhos realizados obtiveram reconhecimento nacional. A empresa já conquistou diversos prêmios da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). “Isso cria um cultura sobre qualidade e excelência na empresa”, afirma Castanheira.
Valor Econômico