A oferta e os altos preços das commodities minerais Luiz Codorniz
17/05/07
Há quase um ano, publiquei neste mesmo espaço um artigo sobre commodities que merece ser revisto. O título era “Aumento das Commodities Minerais: O Outro Lado da Equação”, publicado em 14 de junho de 2006. Recentemente, Charlie Sartain, CEO da Xstrata Plc (a quinta maior mineradora do mundo em valor de mercado) disse: “O outro lado da equação é oferta, e nos últimos 2, 3 anos, nós estamos vendo que o aumento da oferta tem sido significativamente menor do que o mercado estava esperando”. A questão é: onde o mercado está errando e por quê?O negócio de mineração é muito mais complicado do que uma empresa industrial. A mina é construída onde é encontrado um depósito mineral. Ora, isso pode ser no meio da África, na Ásia (Mongólia), ou no Ártico. Em outro caso, você busca o local que tem a melhor combinação de acesso aos clientes, fornecedores e mão de obra, que minimize custos.A lista de fatores que pressionam a oferta é bem extensa: estoques muito baixos, poucas descobertas de novos depósitos minerais, custos de exploração (como perfuração) crescentes, licenças ambientais ou governamentais, relacionamento com as comunidades, além do risco político (Chávez, Morales etc).Há ainda o aumento dos royalties e impostos sobre o setor, impostos sobre exportação de minérios, como na Índia, consolidação (Inco, LionOre, Rio Narcea, Phelps Dodge etc), queda da produção devido ao baixo teor, descasamento de moedas provocando redução da rentabilidade (receita em dólares e custos na moeda local), aumento do custo de abertura de novas minas (capex) e falta de equipamentos.Pode-se citar ainda custos operacionais crescentes (opex: energia, mão de obra em moeda local etc.), falta de pessoal técnico, infra-estrutura inexistente ou insuficiente (energia, logística etc), desastres naturais (alagamentos, deslizamento de rochas etc) e greves. Soma-se a isso, o tempo requerido para colocar em produção uma nova mina, que vai de sete a dez anos em média, contando desde a descoberta do depósito mineral até o “start up” de produção. A onda de fusões e aquisições no setor, por exemplo, é decorrente dos prazos para inicio de produção, a necessidade de repor as reservas, e a alta capitalização das mineradoras. Os fatores acima podem ser classificados em: estruturais (mudança lenta), temporários e imprevisíveis. Essa miríade de fatores torna quase impossível uma projeção da oferta e, conseqüentemente, de preços. Adicione-se a isso o fato de que fundos hedge têm comprado e estocado o metal (como o Adit Capital, que adquiriu estoque de uranium), o que aumenta a volatilidade dos preços. Vamos examinar alguns dos fatores acima com exemplos. Recentemente, a licença ambiental da única mina de chumbo posta em operação nos últimos 30 anos (Magellan, na Austrália, pertencente à Ivernia Inc, e que responde por 3% da oferta mundial) foi revogada, sem previsão para a revisão. A razão alegada é que pássaros estavam morrendo no porto de Esperance, onde os lingotes eram embarcados. O chumbo atingiu o seu preço mais alto em anos, cerca de US$ 2 mil a tonelada.Recentemente a Rio Tinto teve embargada a construção de uma mina em Robe River (Austrália) que irá produzir 22 milhões de toneladas/ano de minério de ferro. O motivo foi que ela iria acabar com cinco espécies de “Troglobites”, similares a uma aranha de 4 (quatro) milímetros, mas que não têm olhos e vivem em cavernas. Um artigo da Reuters sobre o cobre, publicado em 26 de março abordou as interrupções nos últimos dez meses que citava os principais fatores: greves (7); acidentes/desastres (5); falta de suprimentos (4); baixo teor/queda de produção (3); outras ocorrências (8).Recentemente, a Vale do Rio Doce informou que o projeto da mina de níquel de Goro na Nova Caledonia, uma ilha do Pacifico, não tinha prazo para inicio de operação, dada a oposição de parte da comunidade local. Isso vai retirar do mercado cerca de 60 mil toneladas de níquel e entre 3 e 5 mil toneladas de cobalto, 5% da oferta mundial. O consumo de cobalto tem crescido a uma média de 13% nos últimos 10 anos. Nas previsões de oferta do Cobalt Development Institute, a produção de Goro está incluída, mas a paralisação do projeto vai impactar fortemente o mercado nos próximos anos caso não haja aumento da oferta de cobalto proveniente de outras minas.Os preços irão continuar pressionados. Obviamente que não em todos os metais, mas principalmente naqueles que têm mais risco de poluição na sua extração/processamento ou que tenham muito interesse do Estado devido a razões políticas internas (e.g. Bolívia, Venezuela etc.).Luiz Codorniz é consultor de Investimentos
Valor Econômico