Acomodação da produção industrial
05/09/07
Ao contrário do que se esperava, os dados otimistas da Confederação Nacional da Indústria (CNI) sobre a produção industrial do mês de julho não foram confirmados pelo levantamento do IBGE que revelou a queda de 0,4%. O levantamento do IBGE é feito sobre uma base mais ampla do que a da CNI e inclui a produção mineral. Apesar disso, em relação ao mesmo mês do ano passado os dados dos dois levantamentos são próximos: o IBGE registra crescimento de 6,8% e a CNI, de 6,5%. Essa reduzida diferença pode ser explicada pela indústria de mineração. Além disso, o IBGE revisou em alta os dados de maio e junho e informa que incluiu novos produtos nos dados dessazonalizados. Essa longa introdução era necessária para entender corretamente os dados de julho, que poderiam levar à conclusão de que a indústria está sofrendo um processo de desaceleração, sendo esta a primeira retração depois de nove meses de alta. O fato é que o ligeiro recuo de julho reflete mais uma acomodação do que uma tendência de queda da produção industrial. Esta, nos oito primeiros meses do ano, apresenta um crescimento de 5,1%. Convém notar que a perturbação no mercado financeiro internacional ocorreu na segunda quinzena de julho e, por isso, não teve grande efeito sobre o comportamento dos empresários que só agora estão diante de um quadro novo – o fechamento dos financiamentos externos e a alta da taxa de juros – para financiar suas atividades. É possível que os dados da CNI relativos ao valor das vendas reflitam um aumento dos preços. No entanto, para explicar a divergência entre os dois levantamentos, é importante considerar que, nos dados do IBGE, o setor de alimentação sofreu uma queda de 2,5% – e esse é o ramo de maior peso nas estatísticas. É normal que no mês de férias os industriais reduzam a produção. Outro setor que teve queda importante foi o de refino de petróleo, mas isso nada tem que ver com uma queda da demanda, sendo efeito apenas da parada para manutenção de uma unidade da Petrobrás. Com a desvalorização do real em relação ao dólar, é provável que a indústria nacional,nos próximos meses, sofra menos o impacto das importações. Mas é preciso considerar que o comércio exterior – tanto importações como exportações – exige um certo tempo para se adaptar a um novo clima cambial, especialmente quando não se sabe se será duradouro.
O Estado de S.Paulo