Ali Larijani, defensor intransigente do programa nuclear iraniano
22/10/07
Ali Larijani, que renunciou neste sábado ao cargo de principal responsável pelo caso nuclear iraniano, deixa a imagem de um negociador intransigente frente aos ocidentais. Larijani, 49 anos, que fracassou na corrida à presidência de junho de 2005 contra Mahmud Ahmadinejad, havia sido nomeado em agosto do mesmo ano secretário do Conselho supremo da segurança nacional, um cargo que também lhe conferia a missão de administrar o caso nuclear. Ele ficou famoso ao denunciar duramente a política da antiga equipe de negociadores iranianos sobre o nuclear, que considerava conciliadora demais. Ele afirmava que o Irã não devia trocar a “pérola” tecnológica iraniana – em outras palavras, o enriquecimento de urânio – pelo “bombom” oferecido pelos europeus: a cooperação nuclear, comercial e política.
Enquanto seu predecessor, o pragmático Hassan Rohani, manteve o diálogo com os ocidentais por mais de dois anos, Larijani aplicou uma política de ruptura. “Fazer qualquer concessão, por mínima que seja, sobre a tecnologia nuclear, constitui um ato de alta traição”, costumava dizer Larijani, que apoiou, em agosto de 2005, a retomada das atividades de conversão na usina de Ispahan (centro do Irã), decidida durante os últimos dias do mandato do presidente reformador Mohammad Khatami. Ele defendeu em seguida a aceleração das atividades nucleares, e principalmente a retomada do enriquecimento de urânio, considerada pelos europeus como a linha vermelha a não ser cruzada. Neste contexto, ele multiplicou, em vão, as declarações e as advertências aos ocidentais, sobretudo contra a aprovação de sanções. O ferrenho defensor do nuclear acabou se transformando em “negociador”, através de uma série de discussões com o Alto representante da diplomacia da União Européia (UE), Javier Solana. Em junho de 2006, Solana submeteu ao Irã, em nome das grandes potências, uma proposta de cooperação em troca da suspensão do enriquecimento de urânio. No entanto, os diversos encontros não levaram a nenhum resultado concreto, já que Larijani sempre se inscreveu no discurso oficial iraniano, baseado na recusa de qualquer suspensão das atividades de enriquecimento. Além da questão nuclear, Larijani, considerado um fiel do guia supremo, o aiatolá Ali Khamenei, sempre foi conhecido por não praticar a arte do consenso. Entre 1994 e 2004, quando comandava a poderosa rádio e televisão estatal, ele chegou a autorizar a divulgação de filmes estrangeiros, até mesmo americanos, mas não duvidou em censurá-los. Nascido na cidade santa xiita de Najaf (Iraque), filho de uma alta personalidade religiosa, o grande aiatolá Haj Mirza Hashem Amoli, e irmão de Sadegh Larijani, também religioso e membro do ultraconservador Conselho dos Guardiões, ele “islamizou” os programas de televisão. Casado com a filha do falecido aiatolá Mortaza Mottahri, um dos líderes da Revolução Islâmica, Larijani iniciou sua carreira na televisão com 22 anos depois de ter obtido um diploma de matemática e informática na universidade de Teerã. Ele se juntou em seguida aos Guardiões da Revolução, o exército ideológico do Irã. Larijani também foi durante dois anos o ministro da Cultura do presidente Akbar Hachemi Rafsandjani.
AFP