Céu de Brigadeiro, mas…
08/07/07
A indústria de minérios vive um período áureo, com aumentos sucessivos da demanda e, por conseqüência, dos preços internacionais ? há pelo menos três anos. Paradoxalmente, a cadeia produtiva é alvo de críticas e pressão social por causa dos danos causados ao ambiente: exploração descontrolada de recursos finitos, uso intensivo de energia e água, interferência nas paisagens e ameaças às espécies animais. Há pouco tempo, a Rio Tinto, uma das três maiores mineradoras do mundo, teve embargada a abertura de uma mina em Robe River (Austrália) que produziria 22 milhões de toneladas por ano de minério de ferro. O motivo? A mina poderia acabar com cinco espécies de ?Troglobites?, animais similares a uma aranha de quatro milímetros, que não têm olhos e vivem em cavernas. Não é um caso isolado. Em todo o mundo, as restrições à abertura de novas minas são cada vez maiores. ?O mercado da mineração é cheio de incertezas. Para competir em escala global é preciso ser grande. E, justamente por serem grandes, essas empresas não sobrevivem se não se preocuparem com a sustentabilidade?, explica Rinaldo Mancin, diretor de assuntos ambientais do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram). Por parte das empresas, a preocupação com a sustentabilidade se traduz em novas tecnologias que reduzem os impactos da mineração, otimizam o uso do recurso mineral, economizam água e energia e, não menos importante, causam poucos danos à paisagem da região. ?Hoje, já existem maneiras de reconstituir as paisagens de locais explorados. No Rio Grande do Sul existem áreas onde você passa e não imagina que ali era uma área de mineração?, diz Sérgio César, chefe do 1º Distrito do Departamento Nacional de Produção Mineral, em Porto Alegre. Uma cadeia da mineração que já adota metas para reduzir o impacto ambiental é a do cimento, principal matéria-prima do concreto ? material mais usado no mundo depois da água. A indústria do cimento é responsável por 5% das emissões mundiais de gás carbônico. Por isso, ainda em 1999, as maiores empresas mundiais do setor se uniram e criaram a Iniciativa de Sustentabilidade do Cimento (em inglês, CSI). O grupo estabeleceu um conjunto de metas para serem alcançadas em 20 anos. ?O cimento é o pioneiro na área de mudanças climáticas. É o primeiro ramo industrial do mundo a estabelecer metas?, orgulha-se Arnaldo Andrade, diretor técnico da Votorantim Cimentos. Na Gerdau, quase 70% da matéria-prima utilizada no ano passado veio da reciclagem de sucatas ferrosas. Em 2000, a Votorantim se propôs a reduzir, até 2012, em 10% as próprias emissões de CO2 ? considerando os níveis de 1990. Conseguiu ultrapassar a meta muito antes do previsto: em 2005, as emissões já haviam caído 18% sobre os níveis de 1990. Como a fabricação do cimento exige altas temperaturas, a Votorantim também passou a queimar pneus para gerar energia. O método já eliminou mais de 2 milhões de pneus. As siderúrgicas também precisam de temperaturas elevadas nos altos fornos e para isso usam predominantemente o carvão mineral. ?Com certeza, há muito para melhorar. As siderúrgicas poderiam usar em maior escala o carvão vegetal advindo de áreas reflorestadas?, reforça Giovanni Fiorentino, analista da consultoria internacional Bain & Company. Os resíduos ou coprodutos resultantes do processo siderúrgico passaram a ser reciclados ou reaproveitados em outros processos. Até mesmo resíduos que restam da reciclagem da sucata dos veículos podem ser reutilizados, como o zinco presente nas chapas dos automóveis que, até pouco tempo atrás, era descartado no ambiente. ?Agora, o preço do zinco subiu e vale a pena reaproveitar esse resíduo?, avalia Fiorentino. No setor siderúrgico, um dos maiores recicladores das Américas é o Grupo Gerdau. Em 2006, nada menos que 69,6% da produção total do grupo utilizou sucata ferrosa como matéria-prima.
Revista Amanhã