Delicada reunião de Solana em Roma com novo negociador nuclear iraniano
24/10/07
O responsável pela diplomacia européia, Javier Solana, iniciou nesta terça-feira em Roma uma delicada reunião com o novo negociador da questão nuclear iraniana, Said Jalili, considerado mais intransigente que seu predecessor, Ali Larijani, e cuja designação gerou tensões em Teerã. Também participa da reunião, que acontece na Villa Pamphili, normalmente reservada a encontros oficiais do governo italiano, o predecessor de Jalili, Ali Larijani, demitido de forma inesperada há quatro dias.
O chefe da diplomacia européia tenta convencer o Irã a suspender o enriquecimento de urânio, ainda que o novo negociador tenha adiantado à imprensa iraniana que conduzirá com “força” as negociações sobre a questão nuclear. “Continuaremos as negociações nucleares com força. A questão nuclear é um tema sobre o qual existe um consenso nacional”, declarou em Roma. “Muitos esforços têm sido feitos neste sentido, e se Deus quiser o processo continuará com força”, afirmou. São as primeiras declarações feitas por Jalili desde que assumiu o cargo. As tensões geradas pelas mudanças políticas no Irã obrigou o presidente iraniano, Mahmud Ahmadinejad, que fazia uma visita à Armênia, a voltar antecipadamente para Teerã nesta terça-feira. A notícia foi oficialmente desmentida pelo Irã, apesar de fontes diplomáticas terem afirmado que sua volta foi causada pela “situação política”, mais especificamente devido às negociações sobre o programa nuclear iraniano que acontecem em Roma. Jalili é considerado mais próximo ao presidente Ahmadinejad. O ex-negociador Ali Larijani assiste ao encontro de Roma como representante do aiatolá Ali Khamenei, a mais alta autoridade da República Islâmica. Javier Solana, por sua vez, quer avaliar “o estado de ânimo” da nova delegação iraniana, e se a situação de Larijani “implica em mudanças de posição em algum sentido”. O diplomata europeu, que representa França, Grã-Bretanha, Alemanha, Estados Unidos, Rússia e China ofereceu à delegação iraniana uma ampla cooperação em troca da suspensão do enriquecimento de urânio do país.
;”É uma questão de saber se há chances de iniciar negociações” sobre a oferta de cooperação por parte das grandes potências apresentada por Solana aos iranianos em junho de 2006, segundo fontes européias. O novo negociador iraniano, que foi um discreto vice-ministro das Relações Exteriores, é descrito por diplomatas ocidentais como uma “pessoa rígida”, e sua nomeação reforça Ahmadinejad, que também substitui nos últimos meses os ministros do Petróleo e da Indústria, além do presidente do Banco Central, por pessoas consideradas mais dóceis. Paralelamente, o Irã reiterou que não suspenderá seu programa nuclear, em uma carta enviada ao chefe da diplomacia francesa, Bernard Kouchner. “A República Islâmica do Irã é um país responsável e não permite que limitem seus direitos”, escreveu.
O Irã se nega a suspender o enriquecimento de urânio, correndo assim o risco de tornar-se alvo de uma terceira resolução do Conselho de Segurança da ONU com sanções. As grandes potências decidiram esperar mais um pouco antes de estabelecer novas sanções, pelo menos até que Solana e o diretor da AIEA, Mohammed El Baradei, entreguem dois relatórios, em novembro. Solana deve prestar contas sobre a posição do Irã a respeito da oferta de cooperação em troca da suspensão do enriquecimento de urânio, enquanto El Baradei avaliará a cooperação de Teerã para esclarecer os pontos obscuros de seu programa nuclear.
Agência AFP