Demanda por aço pressiona oferta de minério no Brasil
29/10/07
A demanda por aço na indústria brasileira está ajudando a elevar o preço do minério de ferro, enquanto siderúrgicas estrangeiras se deslocam para cá a fim de ficar mais perto das reservas minerais, segundo especialistas. A produção brasileira de aço bruto nos primeiros nove meses do ano cresceu cerca de 10 por cento sobre o mesmo período de 2006, puxada pela demanda da construção civil e da indústria automobilística -setores por sua vez estimulados pela queda dos juros e aumento da renda. Globalmente, a produção de aço cresceu menos, cerca de 7 por cento. O Brasil deve produzir 331 milhões de toneladas de minério de ferro neste ano e cerca de 30 milhões de toneladas de aço bruto. Alguns analistas projetam que até 2010 a produção anual brasileira pode atingir 40 milhões de toneladas, que é a produção atual da Índia. O Brasil é o segundo maior produtor de minério de ferro, atrás da China, e o décimo maior produtor de aço. Ao menos por enquanto, as siderúrgicas brasileiras estão reduzindo as exportações para alimentar o mercado interno. O Instituto Brasileiro do Aço prevê que as siderúrgicas invistam 17 bilhões de dólares até 2012, superando os 10 bilhões de dólares em investimentos previstos no setor de minério de ferro até 2011. O Instituto Brasileiro da Mineração (Ibram) calcula que a produção de minério de ferro atingirá 524 milhões de toneladas em 2010, sendo que só a Companhia Vale do Rio Doce responderia por 400 milhões. A Vale é a maior produtora mundial de minério de ferro. Paulo Penna, presidente do Ibram, disse que, embora o Brasil esteja ampliando suas exportações de minério de ferro, os produtores não podem ignorar as siderúrgicas locais, que consomem até 30 por cento da matéria-prima extraída nas minas brasileiras. “Tudo é movido pelas exportações, mas estrategicamente as mineradoras sempre têm de atender aos clientes locais para garantir a demanda. Os clientes brasileiros estão sem dúvida contribuindo com o crescimento da demanda e com o aumento dos preços”, disse Penna à Reuters. O analista Pedro Galdi, do ABN Amro, citou uma possível tendência de crescimento do setor, já que siderúrgicas estrangeiras estão se estabelecendo no Brasil para ficarem perto das reservas de minério de ferro de alto nível, evitando assim os custos de frete, que atingiram valores recordes nos últimos tempos. “Compensa mais construir uma fábrica aqui para reduzir custos de produção. Já temos as siderúrgicas ThyssenKrupp e Baosteel construindo fábricas, e isso pode se tornar uma tendência”, afirmou. A chinesa Baosteel tem um projeto de uma siderúrgica em sociedade com a Vale, com capacidade para 5 milhões de toneladas por ano, e a ThyssenKrupp trabalha em um outro projeto, para a produção anual de 5 milhões de toneladas de lâminas, também tendo a Vale como sócia minoritária, com inauguração prevista para 2009. “Se houver mais fundições assim, é o sonho da Vale sendo realizado -vender domesticamente, sem frete”, disse Galdi. O preço cobrado pela Vale não inclui o frete, que nos níveis atuais equivale a quase dois terços do preço do minério. A empresa está se preparando para iniciar as negociações anuais de preços com seus clientes, e analistas esperam um aumento de 25 por cento em relação a abril, segundo pesquisa Reuters, após aumento de 9,5 por cento neste ano.
Reuters