EBX planeja explorar gás na Bolívia
21/02/08
RIO, 21 de fevereiro de 2008 – Após vender parte da operação de minério de ferro para a Anglo American, o empresário Eike Batista planeja multiplicar o patrimônio a partir de atividades em petróleo, logística e energia. Batista diz que continuará na mineração, setor que mais o ajudou a acumular os US$ 16 bilhões que declara ter em patrimônio. Mas deixa claro que seu ponto forte nesta área é avaliar jazidas e criar valor, não ficar para sempre com elas. Nos planos, estão a volta de investimentos na Bolívia, em siderurgia e ainda em exploração de gás. O empresário cogita um acordo com a espanhola Repsol YPF, que possui campos importantes do insumo no país. Batista defende as ações do presidente boliviano Evo Morales na região.
“O Evo fez o que tinha de fazer. Quis quebrar um centenário de exploração desenfreada do país. Aquilo era uma espoliação e alguém tinha que entornar o caldo?”;
O empresário também negocia com multinacionais para formar parcerias na exploração de áreas arrematadas no leilão da Agência Nacional de Petróleo (ANP). Na OGX, subsidiária recém-criada para descobrir petróleo, Batista já prepara a abertura de capital, prevista para meados deste ano. Presidida pelo ex-presidente da Petrobras, Francisco Gros, a OGX é quem negocia com as gigantes mundiais do Oriente e do Ocidente para desbravar as 21 áreas do leilão de concessões da ANP.;
Os investimentos planejados pela EBX, a holding de Batista, para os próximos anos, somam cerca US$ 5,4 bilhões. A maior parte para energia e logística.
Na mineração, seguem conversas com quatro estrangeiras para aquisição de parte do sistema Corumbá, o último dos três sob o crivo da MMX. O empresário também trabalha para assegurar parceria na exploração das duas minas de minério de ferro adquiridas há alguns meses: AVG e Minerminas, em Minas Gerais. Lá devem ser investidos US$ 300 milhões para elevar de 6 milhões para 20 milhões de toneladas a produção anual do minério de ferro, até 2009, afirmou o empresário à Gazeta Mercantil, em entrevista na sede da empresa, no Rio. Sede que, aliás, pode mudar de endereço. O empresário negocia a compra do Hotel Glória, famoso pelo estilo clássico, no qual planeja se instalar.;
Há também entre os negócios de Batista empreendimentos imobiliários, como a construção de um hospital e edifícios residenciais, e, a menina dos olhos, dois grandes portos: o Porto do Açu, no Norte Fluminense, e o Porto Brasil (Peruíbe), no litoral paulista. Um outro grande porto no Chile também está nos planos do empresário.;
“Não tenho medo de investir e, como venho da área de ouro, onde a taxa de acerto é de 17 mil para 1 se me oferecem algo com 30, 50% de chance de acerto é ótimo.” Além da ousadia, Batista credita a possibilidade de investir com sucesso em tantas áreas ao time de profissionais com os quais trabalha. Ele tornou sócios seus executivos. Além de Gros, trouxe para as empresas da EBX os experientes Rodolpho Landim, ex-presidente da BR (com passagem relâmpago pelo Pão de Açúcar), e Paulo Mendonça, que chefiava a área de Exploração e Produção da Petrobras.;
Na última terça-feira, Batista informou ao mercado, por meio de fato relevante, que transferiu sua participação em térmicas da MPX, braço de energia do grupo, para os investidores desta mesma empresa, para compensá-los de perdas que tiveram com a desvalorização dos papéis. “Quando fui ao mercado captar R$ 1,2 bilhão, os investidores generosamente investiram comigo e de lá pra cá houve uma recalibragem de ativos no mundo e eu como um cara realista devolvi o que eles perderam”, disse Batista. Os analistas classificaram de prática de boa governança e ele de doação.
A empresa captou R$ 1,2 bilhão no final do ano passado. O prejuízo de 20% foi compensado com os cerca de R$ 240 milhões que Batista repassou da sua participação nos projetos de térmicas no porto do Açu e no Chile. “Eu cultivo meus parceiros. É a primeira vez que vejo um negócio desse no mundo”, acrescentou.
Batista falou de seus projetos à Gazeta Mercantil.
Gazeta Mercantil – Com o sucesso da negociação com a Anglo American, qual é agora o carro-chefe do grupo?
– O petróleo. Tem escala gigantesca, umas 50 vezes maior que a mineração. É um business diferente.
Gazeta Mercantil – O senhor gosta de risco. Um exemplo foi entrar como entrou, com altos lances, no leilão de petróleo
– Não nos importamos em gastar US$ 50 milhões para pesquisar alguma coisa; é óbvio que temos uma leitura do eventual potencial, mas só tem resultado final depois de arriscar.
Gazeta Mercantil – Quais os planos do grupo na mineração?
– Temos a AVG e a Minerminas, área de exploração de bauxita e obviamente estamos interessados em urânio. Na AVG e Minerminas vamos elevar de 6 milhões para 20 milhões de toneladas a produção até 2010. Recebemos, por semana, cerca de 20 propostas de áreas para avaliação e estamos avaliando agora aproximadamente 20.
Gazeta Mercantil – E a produção de Corumbá?
– É uma perna importante para o nosso Porto Brasil, porque precisamos de carga própria para conseguir licenças. Temos quatro interessados em comprar um pedaço. Estamos fornecendo minério para a usina de gusa, que são 600 mil de toneladas. Neste ano vamos produzir 2 milhões de toneladas das quais 1,4 milhão para exportação.
Gazeta Mercantil – Os interessados no negócio fazem parte dos clientes atuais?
Também.
Gazeta Mercantil – No negócio com a Anglo, a operação de logística ficou com a LLX?
– Nós não vendemos 51% do porto de Açu, pertencente à mineração. Eles ficaram com 49%. Então, a Anglo quer que sejamos responsáveis por colocar o sistema Minas-Rio em produção da mesma maneira que colocamos o sistema Amapá; eles querem a nossa equipe completa. Por isso me mantiveram como CEO. Será a primeira receita da LLX. Por isso existe essa simbiose, estamos totalmente interligados. E uma das razões da venda, nessa simbiose, era a capitalização para continuar desenvolvendo a logística, porque o porto do Açu vai se tornar um megaporto industrial.
Gazeta Mercantil – Qual o investimento no Porto de Açu?
– São US$ 700 milhões e no Porto Brasil serão US$ 2,5 bilhões.
Gazeta Mercantil – O projeto do Porto Brasil, na região de Peruíbe (SP), se mantém, mesmo diante das dificuldades ambientais e com a comunidades indígenas da região?
– Dificuldades sempre se tem. Trabalha-se, faz-se estudo, se estiverem errados faz-se de novo. Não fazemos nada errado, não precisa.
Gazeta Mercantil – Com relação à legislação brasileira, o governo está preparando um marco regulatório para o setor de mineração. O senhor tem participado do assunto?
– É o Ibram (instituto que reúne das mineradoras) que participa, mas acho que tudo tem que ter suas regras.
Gazeta Mercantil – A cobrança de royalties na mineração no Brasil é considerada mais barata que em outros países. Isso atrai investimentos? – O problema é que é o royalty e mais o imposto de renda. A carga final é o que interessa. A busca do Brasil é pelo fato de ter o melhor minério de ferro do mundo.
Gazeta Mercantil – Onde estão acontecendo essas pesquisas?
– No Amapá, Amazonas, Minas Gerais, Goiás, Bahia e também no Mato Grosso.
Gazeta Mercantil – As quatro empresas com as quais vocês estão conversando para comprar parte de Corumbá são do exterior?
– Três são de fora, uma está no Brasil.
Gazeta Mercantil – A expectativa é fechar o negócio até quando?
– Nos próximos seis meses deve sair.
Gazeta Mercantil – Os preços do minério de ferro estão em alta, qual a tendência?
– Os preços não vão recuar porque os minérios acabam. Os de alta qualidade não existem mais. O chinês lavra o minério de 10% de teor. Eles raspam o tacho. Não existe mais hoje o granulado. A maior jazida de granulado que sobrou é da Rio Tinto, em Corumbá. Então, cuidado, se US$ 10 era o custo, pode começar a olhar para US$ 20.
Gazeta Mercantil – A origem de tudo foi o ouro, quais os planos para o ouro?
– Volto a qualquer hora. Estamos olhando a área de ouro.
Gazeta Mercantil – Vocês estão investindo na exploração de bauxita, podem avançar nesse negócio?
– A bauxita está nos planos, mas para exportação. Os preços de energia desestimulam investimentos em alumínio.
Gazeta Mercantil – Já há projetos direcionados para o porto de Peruíbe?
– Mineração de Corumbá, etanol, tem produtores de álcool que querem sua produção independente e estão interessados em fazer um alcooduto e vai virar um megaporto de contêineres porque Santos vai entrar em saturação. O Brasil pode dobrar sua produção de commodities. Nós somos complementares para essa carga toda que o Brasil pode vir a exportar.
Gazeta Mercantil – Os interessados serão sócios no porto?
– Não, vão arrendar. O modelo de negócio da LLX é tarifa de manuseio do porto e arrendamento industrial da área.
Gazeta Mercantil – Quem serão os sócios para tocar os 21 blocos arrematados no leilão da ANP? – Por enquanto, Maersk e a Perenco.
Gazeta Mercantil – Quais os planos para a OGX?
– Queremos abrir capital aqui a um valor de provavelmente US$ 12 bilhões antes da captação e queremos captar uns US$ 2 bilhões.
Gazeta Mercantil – Há fôlego para participar do próximo leilão?
– Isso temos sempre. Não paramos.
Gazeta Mercantil – O grupo também está construindo hospital para empresas particulares, negocia o Hotel Glória…
– Estamos negociando o Hotel Glória. A idéia é transferir a sede da empresa para lá, além do funcionamento do hotel. Vamos fazer uma reforma para voltar a estrutura que era em 1920. Essa engenharia deve custar R$ 60 milhões
Gazeta Mercantil – Quais os projetos sociais da companhia?
– Temos alguns, um deles o projeto de despoluição da Lagoa. Construção de hospitais. Esses projetos vão aumentar. Mas vamos fazer as coisas organizadamente.
Gazeta Mercantil – A ousadia foi característica fundamental para erguer o patrimônio de US$ 16 bilhões?
– Não tenho medo de investir e, como venho da área de ouro, onde a taxa de acerto é de 17 mil para 1, se me apresentam um negócio com 30%, 50% de taxa de acerto então é ótimo.
Gazeta Mercantil – Como pretende multiplicar esse patrimônio?
– Com investimentos em petróleo, logística, energia. Mineração tem menor participação nesse crescimento porque as reservas são limitadas.
Gazeta Mercantil – Quem serão osparceiros no petróleo? São as maiores do mundo?
– Tem uns chineses gigantes, indianos gigantes. Emergentes.
Gazeta Mercantil – E a Shell?
– Bons sócios (risos).
Gazeta Mercantil – E os investimentos no exterior. Na Bolívia, por exemplo?
– A Bolívia nos interessa porque tem muita energia. O Evo fez o que tinha de fazer. Quis quebrar um centenário de exploração desenfreada do país dele. Aquilo era uma espoliação e alguém tinha que entornar o caldo. E o bom é que é um cara honesto, que quer o bem mesmo. Pensamos em investir lá em energia e siderurgia. Gerar energia térmica para o Brasil. Nos interessa entrar na exploração de gás.
Gazeta Mercantil – A OGX vai entrar como, por meio de licitação ou de negociação com outras empresas?
– Vamos conversar com a Repsol, que está sentada em cima do poço, em campos como, acho que são, San Alberto e Margaritta. Estamos encaminhando conversas.
Gazeta Mercantil – Quais as perspectivas econômicas para o Brasil?
– Espetacular. Se eu estou vendo a possibilidade de dobrar o volume de produção agrícola em sete anos, teremos um crescimento expressivo. Temos uma economia ainda muito pouco alavancada. O Itaú, por exemplo, só tem 12% da carteira alavancada em imóveis. Imagina o que tem para crescer. Gazeta Mercantil – E a projeção para o crescimento do PIB?
;- O problema de crescer demais são os gargalos. Na construção civil, há um problema de falta de energia. E falta também cimento. (Sabrina Lorenzi e Rita Karam – Gazeta Mercantil)
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