Eles subiram antes
23/07/07
Eles subiram antesMas 25 empresas nacionais, já – e ganham alto com isso O Brasil está a um degrau de receber a nota de investimento seguro das agências internacionais de classificação de risco (rating). Até o final deste ano ou, quem sabe, em 2008, o País deverá alcançar o tão sonhado nível investment grade, deixando para trás a pecha de investimento especulativo. Nesse Olimpo das Finanças, só entram os bons pagadores. Mas antes que as portas se abram para o País, algumas empresas de primeira linha e seus gestores já chegaram lá. José Sérgio Gabrielli, da Petrobras; André Johannpeter, da Gerdau; Roger Agnelli, da Companhia Vale do Rio Doce; e Benjamin Steinbruch, da CSN, fazem parte do seleto grupo que atingiu o andar de cima. Frederico Curado, da Embraer; Márcio Cypriano, do Bradesco; e Roberto Setubal, do Itaú, também. Nenhum deles conseguiu ainda a nota máxima para suas empresas ? o AAA ?, mas já obtiveram para elas regalias exclusivas, como crédito farto e muito mais barato. Como conseguiram? A escalada rumo ao investment grade é árdua. As notas das três principais agências internacionais de risco vão de D (a pior nota, reservada aos caloteiros) a AAA. O Brasil é considerado BB+ pela Fitch Ratings, BB pela Standard & Poor´s e Ba3 pela Moody?s. A partir de BBB-, atingese o grau de investimento. Para dar esse passo a mais, romper a barreira do risco soberano e conseguir que seus títulos em moeda estrangeira deixem de ser considerados investimento especulativo, é preciso esbanjar saúde financeira e ser reconhecido como um competidor de classe mundial. Se não imune, pelo menos protegido dos eventuais solavancos da economia brasileira. Pelo menos 25 companhias chegaram lá na avaliação da Fitch, da S&P e da Moody?s. ?Essas empresas são menos vulneráveis à volatilidade da economia brasileira?, diz Reginaldo Takara, diretor da área de ratings corporativos da S&P. ?Suas estruturas são competitivas no contexto global e possuem diversificação geográfica e de negócios.? A Moody?s conferiu o grau de investimento a 36 empresas na América Latina. Destas, 39% são do Chile, 39%, do México e 19%, do Brasil. Quando o risco soberano brasileiro for considerado menor, essa diferença tende a diminuir. Muitas companhias só mudarão de grupo de risco quando o País for promovido. ?O grau de investimento dos países afeta os ratings corporativos porque é o ambiente no qual as empresas atuam?, diz Alex Carpenter, coordenador regional de análise empresarial de crédito para América Latina Moody?s. Quem reuniu as condições para furar a fila tem conseguido taxas melhores na captação de recursos lá fora, bem como prazos maiores. A Votorantim, promovida em 2005, trocou toda a dívida externa anterior e emitiu novos títulos imediatamente após alcançar o grau de investimento. Só em despesas com juros, a economia foi de US$ 80 milhões. O que não falta são investidores que só aplicam em empresas com rating superior a BB+ e, pelo menor risco que correm, estão dispostos a receber menos juros. ?Há um porto enorme de compradores desses papéis que fogem do grau especulativo?, diz Paulo Soares, diretor de Assuntos Internacionais do Itaú. Dinheiro mais barato significa que essas empresas podem competir em igualdade de condições com suas concorrentes globais. A Votorantim pôde encarar de frente gigantes como a Tata e a Mittal. ?A desvantagem era o nosso custo do capital. Chegamos a perder transações, mas agora estamos em igualdade de condições?, diz Luis Felipe Schiriak, diretor financeiro da Votorantim. A Embraer aproveitou a deixa para fazer sua primeira emissão de dívida no Exterior. Decidiu captar US$ 300 milhões e teve ofertas de US$ 3 bilhões. No final, a emissão foi aumentada em mais US$ 100 milhões. A taxa? Bem pequenininha: 6,6375% ao ano. As próximas serão mais fáceis. ?Temos a segurança da aceitação dos nossos papéis em uma nova emissão?, diz o vice-presidente Antônio Luiz Manso. Como o custo financeiro já não é mais um empecilho para recorrer ao mercado internacional, até mesmo as instituições financeiras buscam a emissão de dívida no Exterior. Quem ganha são seus clientes no Brasil. ?O benefício é usado para reduzir o custo das operações para a cadeia de varejo?, diz Osnat Gruenewald, responsável pelas relações com investidores do ABN Amro Real. As empresas beneficiadas podem cobrar menos por seus produtos. À medida que maiores volumes e prazos forem utilizados pelos bancos, o crédito chegará mais competitivo para os tomadores. No final, com o investment grade, todos saem ganhando. QUEM CHEGOU LÁ * ABN Real, Açominas, Alcoa, Ambev, Aracruz, Banco do Brasil, BNDES, Bradesco, Bradesco Seguros, CSN, Embraer, Gerdau, Itaú Holding, Itaú, Itaú BBA, Petrobras, Samarco, Santander Banespa, Telemar, UBS Pactual, Unibanco, Usiminas, Vale do Rio Doce, Votorantim Celulose e Papel, Votorantim Participações
VANTAGENS OBTIDAS ?Votorantim: economizou US$ 80 milhões com a troca dos tîtulos após ser considerada nível de investimento ?Embraer: fez sua primeira emissão de dívida no Exterior e trouxe US$ 400 milhões a juros de 6,6375% ao ano ?ABN Amro Real: captou mais barato lá fora e reduziu os juros para seus clientes de varejo *Empresas investment grade nas dívidas em moeda estrangeira Fontes: Fitch Ratings, Moody?s e S&P A CORRIDA PELOS PAPÉIS PRIVADOS Não é somente a emissão de títulos em moeda estrangeira que movimenta as empresas brasileiras. As dívidas em moeda local também são uma fonte de recursos para as companhias e um atrativo a mais para a diversificação dos investidores. Atualmente ainda restrita às operações com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), a corrida pelos títulos privados não demorará a acontecer, principalmente com a queda gradual da taxa básica de juros. ?O mercado está carente de novos produtos que não sejam títulos públicos ou ações?, confirma Onito Barbosa, sócio do Grupo Global. Há quatro anos, ele apostou no crescimento desse mercado e criou a administradora de fundos de crédito privado Global Capital Administradora de Recursos. Nesse período, nenhuma inadimplência foi registrada. Isso aconteceu devido à rigidez da avaliação de risco do crédito feito pelas agências classificadoras de risco Austing Rating, LF Rating e SR Rating, explica Barbosa. Em 40% dos casos, o negócio não é realizado. As operações da Global Capital têm média de R$ 4 milhões e são direcionadas para médias empresas, com faturamento entre R$ 10 milhões e R$ 50 milhões e prazo entre 36 a 48 meses. ?É uma operação que garante a produção do bem de capital e a entrega do produto?, diz Barbosa. Atualmente, a carteira tem R$ 700 milhões, mas é dirigida a investidores institucionais, como fundos de pensão e estrangeiros.
Isto É Dinheiro