Importação de bens de capital é generalizada
17/12/07
Praticamente todos os setores da economia brasileira estão aproveitando o dólar barato para importar máquinas e equipamentos e se modernizar. De 38 setores analisados, apenas três – rodoviário, vidro e naval – reduziram sua compras de bem de capital no exterior de janeiro a outubro deste ano em relação com igual período em 2006, conforme levantamento da Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos (Abimaq). Essa importação generalizada, avaliam os economistas, é um bom sinal para a oferta futura de bens industriais no país, pois revela que o investimento produtivo não está concentrado em pouco setores.”As importações de máquinas e equipamentos estão bem espalhadas pela economia. As indústrias atendem as exigências do processo de esgotamento da capacidade produtiva local”, diz Claudio Considera, professor da Universidade Federal Fluminense (UFF). O professor da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp), Eduardo Strachman, ressalta que as importações de equipamentos pesados, que são feitos sob encomenda, aumentaram 29%, abaixo da média geral de 31,8%. Os bens de capital seriados – máquinas produzidas em série e que atendem a diversos setores – crescem mais. O ritmo de crescimento dos diferentes setores da economia, no entanto, é bastante díspar. Na comparação entre janeiro e outubro e o mesmo período de 2006, o percentual de crescimento das importações de bens de capital por setor varia de 5,5% a 274%. Nas contas de Considera, mineração e construção civil registram o aumento mais expressivo de compras de máquinas no exterior, respondendo por quase 40% do crescimento. No caso dos minérios, o poder de compra do setor cresce devido ao aumento dos preços internacionais. Fernando Puga, chefe do departamento da área de pesquisa econômica do BNDES, avalia – com base nos dados da importação – que a construção civil é “disparado” um dos setores que mais aumentam as compras de bens de capital no exterior.As importações de máquinas diretamente para a construção civil cresceram 220% nos primeiros dez meses do ano, embora os valores ainda sejam pouco expressivos, pouco mais de US$ 6 milhões. As importações de bens de capital para a indústria de cerâmica, que também está ligada à construção, cresceram 274% no período, para US$ 17 milhões. Puga observa que a construção civil cresce no mercado interno, beneficiada pelo aumento do crédito, redução dos juros, medidas de alienação fiduciária e mudança das regras no patrimônio de afetação.Diversos outros setores também aumentam as compras de máquinas no exterior. As indústrias de papel e celulose elevaram em 258% as importações de bens de capital, por conta do aumento da capacidade produtiva. O Brasil é campeão de produtividade nesse setor, o que atrai investimentos empresariais. Puga lembra que o setor químico não investia em plataformas novas há muito tempo e só agora recupera o fôlego.Os dados de importação de bens de capital sugerem que os setores exportadores e intensivos em mão-de-obra têm menos recursos para aproveitar o câmbio e comprar equipamentos importados. As compras de máquinas e acessórios têxteis no exterior cresceram apenas 8,9% de janeiro a outubro deste ano em relação a igual período de 2006. No caso de máquinas e equipamentos para a indústria do couro, a alta foi de 5,5%. No total, as importações de bens de capital do país subiram 31,8% de janeiro a novembro, para US$ 22,8 bilhões. A indústria nacional de máquinas e equipamentos também aumentou a produção e as vendas locais, mas em ritmo menos intenso. Segundo a Abimaq, o faturamento do setor cresceu 13% de janeiro a outubro, para US$ 11 bilhões. A entidade informou que, devido ao aumento das importações, o déficit do setor deve ultrapassar US$ 4 bilhões em 2007. “O dólar barato tem efeito imediato nas máquinas seriadas. Em três meses, aumentam as importações”, diz Luiz Aubert Neto, presidente da Abimaq.O dirigente afirma que o setor “não é contra a importação de máquinas, desde que gere tecnologia e exista isonomia de carga tributária, juros e financiamento”. Conforme dados da entidade, apenas 15% dos bens de capital que chegam ao país utilizam o benefício do ex-tarifário, que reduz para 2% o imposto de importação de máquinas que não possuem similar nacional. Ou seja, 85% das máquinas importadas competem com as nacionais.”As máquinas de pequeno valor agregado e de baixa tecnologia que chegam da Ásia são as que fazem mais estrago”, disse Neto. Ele afirmou também que, há cinco anos, a China sequer figurava na lista dos maiores fornecedores de máquinas e equipamentos para o Brasil. Hoje ocupa a terceira posição, ultrapassando o Japão e atrás apenas de Estados Unidos e Alemanha.André Rebelo, do Departamento Econômico da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), ressalta que é importante analisar a contribuição de cada segmento das importações para a alta total. Segundo os cálculos da entidade, as importações de bens de capital responderam por 15% do aumento das compras do Brasil no exterior, enquanto bens industriais (matérias-primas, bens duráveis e não-duráveis) ficaram com 92% e as compras de combustíveis diminuíram, proporcionalmente.Embora ninguém discuta que o aumento da compra de máquinas e equipamentos é importante para elevar a produtividade da indústria nacional, os economistas divergem sobre o impacto das compras externas nos fabricantes nacionais de bens de capital. “As importações de bens de capital são uma concorrência importante para baratear o investimento e obrigar as empresas nacionais a produzirem máquinas mais baratas”, argumenta Considera, da UFF. Para Puga, do BNDES, a produção doméstica de bens de capital está crescendo muito e dificilmente poderia atender uma fatia ainda maior da demanda brasileira. “O crescimento das importações de bens de capital não responde a um movimento só do câmbio, mas também ao crescimento forte da economia”, diz. Ele ressaltou que, embora a indústria de bens de capital tenha se desenvolvido muito, alguns setores ainda necessitam importar máquinas.Eduardo Strachman, da Unesp, não concorda com a teoria de que é preciso facilitar a importação de bens de capital para reduzir os custos de investimento. “Faria mais sentido baixar os impostos sobre a produção nacional, o que incentivaria o investimento dos fabricantes de máquinas e aumentaria a capacidade produtiva do país”, diz ele. Na sua avaliação, o desenvolvimento da indústria de bens de capital ajuda a evitar o “vazamento” da demanda brasileira para o exterior, contribuindo para a inovação tecnológica e os investimentos.
foto: Nelson Perez/Valorlegenda: Fernando Puga: produção doméstica de máquinas já é insuficiente
Valor Econômico