Multinacionais lucram na China após anos de investimento
09/10/07
Durante anos, muitas multinacionais viram a China como um país de grande potencial, mas que proporcionava um lucro pequeno. Até mesmo na década de 90, gerentes de marketing ocidentais achavam o gigante asíatico mais frustrante que lucrativo.
;Uma pesquisa da consultoria A.T. Kearney em 1998 concluiu que mais de um terço das multinacionais estavam perdendo dinheiro na China, e 25% das restantes mal chegavam ao ponto de equilíbrio. Em 1999, quando a Câmara Americana de Comércio na China pediu para que seus sócios respondessem um questionário sobre o tempo de espera para que suas operações locais dessem lucro, muitos escreveram piadinhas nos formulários. A situação mudou mais rápido do que muitos executivos esperavam. Hoje, a China não só representa uma fonte de renda dinâmica para várias multinacionais como também se tornou uma fonte de lucro que não pára de crescer. A mudança proporciona a estas companhias e seus acionistas uma vantagem que é muitas vezes passa despercebida: a de tomar parte na continuidade da rápida transformação da China numa potência econômica mundial. Apesar de ser conhecido como um exportador prodigioso, o país também se tornou um dos maiores mercados para celulares, com mais de 500 milhões de usuários, o que a torna crucial para empresas como a Nokia Corp. e Motorola Inc. A China só fica atrás dos Estados Unidos no número de usuários de Internet: 162 milhões, razão pela qual a Sun Microsystems Inc. espera que seu faturamento na China dobre dentro dos próximos três anos, superando o maior mercado da Sun, o Japão. A China é o segundo maior mercado mundial de microcomputadores e automóveis, atrás apenas dos EUA. Também é responsável pela grande demanda de commodities como minério de ferro, promovendo o crescimento de mineradoras como a Vale do Rio Doce. Uma análise que a Revere Data fez de fatos relevantes publicados por companhias listadas nas bolsas dos EUA mostrou que apenas 44 relataram ter tido 5% ou mais da faturamento oriundo da China em 2001. No ano pasado, este número aumentou para 108. O número verdadeiro provavelmente é mais alto, porque muitas companhias não divulgam receita por país. “Todos sabiam que a China seria uma grande coisa um dia, mas acho que ninguém previa exatamente quando esse dia chegaria”, diz Richar Lavin, presidente do conselho da Caterpillar Inc., a fabricante americana de veículos para trabalho pesado.
Apesar de estar presente no mercado chinês desde 1978, a Caterpillar diz que suas vendas começaram realmente a aumentar nos últimos cinco a oito anos. Nesse período, reformas abrangentes trazidas pela entrada da China na Organização Mundial do Comércio (OCM) em 2001 abriram os mercados e reduziram a burocracia. Nos últimos dez anos, a renda per capita triplicou, ajudando a aumentar o consumo. Uma onda de construções aumentou a demanda de commodoties e maquinário para trababalho pesado. Em 2006, a Caterpillar vendeu mais de US$ 1 bilhão de produtos para a China, entre mercadorias produzidas localmente e exportadas de sua matriz, nos EUA. A China representa 2,5% dos US$ 41,5 bilhões da receita total da empresa, que está trabalhando para que elas tripliquem até 2010 e representem um quinto do faturamento adicional total durante o período, diz Lavin. A Caterpillar elegeu a China como um de seus “fatores de sucesso mais importantes”. Os outros fatores são áreas mais abrangentes como distribuição e qualidade. “Se não liderarmos na China, nossa posição de liderança será ameaçada”, diz Levin. A Caterpillar também criou um grupo de diretores chamado Conselho da China para ter certeza de que a alta diretoria aja rapidamente quando surgirem novos investimentos ou outros fatores importantes.
Este ano, pela primeira vez a China irá contribuir mais para a economia global que qualquer outro país, inclusive os EUA, de acordo com estimativas do FMI. A China, cujo crescimento econômico chegou a mais de 11% este ano, está a caminho de superar a Alemanha como a terceira economia do mundo, muito embora seu produto interno bruto ainda seja menor que um terço do dos EUA, em dólar. “As pessoas não sabiam muito bem a rapidez com que tudo isto poderia acontecer”, diz Sam Su, presidente da Yum Brands Inc, que recebe cerca de 20% de seu faturamento através dos restaurantes Pizza Hut e KFC na China. Apesar de a Yum Brands, com matriz no estado de Kentucky, nos EUA, estar na China há 20 anos, mais tempo que a maioria das companhias de países ricos, ela não é mais a exceção por obter lucros lá.
;E essa alta no faturamento cada vez mais se traduz em lucro. Em pesquisas divulgadas pelo Conselho de Comércio China-EUA e a Câmara de Comércio da União Européia, mais de 80% dos participantes responderam que no ano passado suas operações na China foram lucrativas. Como resultado, a China se tornou mais importante para investidores mundialmente, até para aqueles que não têm ações em nenhuma empresa chinesa. “A China é grande demais para ser ignorada, você sempre precisa estar acompanhando o que acontece lá”, diz Brett Gallagher, vice-diretora de investimentos da Julius Baer Investment Management, em Nova York.
O potencial de crescimento no mercado doméstico também demonstra por que tantos empresários estão preocupados com o aumento da animosidade entre a China e seus maiores parceiros comerciais, que são os EUA e a União Européia, em relação a política cambial e à qualidade dos produtos exportados pela China. Para se previnir, muitas multinacionais estão se voltando ainda mais para o mercado local. A farmacêutica AstraZeneca PLC, cuja antecessora entrou na China em 2000 com uma fábrica e uma operação de vendas, expandiu os programas de testes clínicos no país, montou uma equipe de pesquisas e abriu uma operação de compras. Ano passado, a China gerou 2% do faturamento da empresa britânica, que totalizou US$ 26,5 bilhões. A AstraZeneca espera que a China seja seu terceiro maior mercado dentro de cinco anos.
Valor Econômico