Na trilha do ouro e das pedras preciosas
10/02/08
Convênio entre o Instituto Brasileiro de Gemas e Metais Preciosos e o Ministério do Turismo prevê a criação de roteiros turísticos de gemas, jóias e pedras preciosas em estados como Minas Gerais e Rio Grande do Sul. A idéia é atrair estrangeiros ligados ao setor, na área dos negócios, geólogos, gemólogos e até representantes de museus.
São Paulo ? O Brasil tem praias maravilhosas, cascatas, cidades históricas e…minas de ouro e metais preciosos. Uma parceria entre o Instituto Brasileiro de Gemas e Metais Preciosos (IBGM) e o Ministério do Turismo quer estimular a visita de turistas estrangeiros ligados a negócios de pedras preciosas e ouro e também de profissionais como geólogos, gemólogos e até representantes de museus de todas as partes do mundo. A idéia é mostrar para esses profissionais que existe um extenso circuito de minas, jazidas, garimpos, joalherias, museus e cidades históricas ligadas à mineração.
O projeto começou, é claro, em Minas Gerais. Em parte por causa da grande oferta de atrativos do setor mineral, em parte por causa das rotas turísticas consolidadas, como o Circuito do Ouro ? que envolve as cidades históricas de Ouro Preto, Mariana, Tiradentes, entre outras ? e como a Estrada Real, um complexo de mais de 1,4 mil quilômetros que começa em Diamantina e vai até o Rio de Janeiro. Em Minas, o projeto conta com a parceria do Sebrae-MG.
Segundo Marcelo Soares, consultor do IBGM, o projeto começou há mais de um ano, quando as regiões que serão trabalhadas começaram a ser diagnosticadas. “Nesse primeiro momento, fizemos um levantamento de Minas Gerais e do Rio Grande do Sul. Mas outros estados que também têm minas em potencial, como a Bahia e o Pará, devem ser trabalhados em breve”, explica. Os roteiros de gemas e jóias, como é chamado o projeto, de Minas e do Rio Grande do Sul, podem começar a ser divulgados ainda neste ano, de acordo com o consultor do IBGM.
Em Minas, na região do Circuito do Ouro, como já existe uma estrutura hoteleira e de suporte aos turistas, são poucos os ajustes que devem ser feitos. “O que precisa ser feito ali é preparar as minas e garimpos para receber turistas”, explica Soares. Segundo Mônica Alencar, responsável pelo setor de turismo dentro do Sebrae-MG, esses locais costumam receber visitantes como estudantes de geologia, engenharia, técnicos e comerciantes do setor. Mas ainda não há estrutura para receber grandes fluxos de turistas.
“Isso só acontece em alguns pontos já bem turísticos como a Mina da Passagem, em Mariana, mina de ouro com mais de 330 metros de profundidade”, explica ela.
Ainda no Circuito do Ouro, os turistas poderão conhecer lugares como a Mina do Capão. “Trata-se da única lavra de topázio imperial do mundo”, conta Mônica. Em Itabira, há minas de esmeralda. Fora os atrativos que essas cidades oferecem aos turistas “comuns” como as igrejas de Ouro Preto, os centros históricos, a Maria Fumaça e as joalherias e lapidários da região.
Mais de Minas
Além do Circuito do Ouro, o projeto prevê uma outra rota no estado: o Circuito das Pedras Preciosas, que envolverá as cidades de Governador Valadares, Teófilo Otoni, Coronel Murta e Araçoari, no Vale do Jequitinhonha. “Não é uma região tradicionalmente turística, mas é muito forte no turismo de negócios”, conta Soares.
“Neste ano, vamos fazer um levantamento do número de visitantes estrangeiros que Governador Valadares e Teófilo Otoni recebem entre julho e agosto, quando acontecem duas importantes feiras de pedras preciosas nas cidades”, conta Mônica, do Sebrae. Nessa região, será necessário um esforço maior no sentido de preparar as cidades para receber os turistas, como a criação de mais hotéis, restaurantes, guias, condutores, agências de receptivo e até mesmo a conscientização de seus moradores para esse novo público. “Em Teófilo Otoni, há muitas fazendas históricas. Queremos incentivar a criação de novos hotéis e pousadas nesses lugares e mesclar esse turismo de gemas e jóias com o turismo rural nessa região”, conta Mônica.
Segundo a consultora do Sebrae, o cartão postal do estado nas feiras internacionais é justamente o Circuito do Ouro ? uma região já acostumada a receber estrangeiros, sobretudo franceses. Ainda assim, o Sebrae, em parceria com prefeituras e secretarias de turismo, busca capacitar empresários e estimular o empreendedorismo local. Uma das iniciativas é treinar guias, agentes e condutores com o inglês, francês e espanhol básicos. Além disso, Mônica conta que é preciso estimular a conexão entre as partes envolvidas: hotéis, agências, restaurantes, etc. “Hoje há muita gente preparada para receber turista. Mas essas partes não se conversam”, conta.
Ao sul
Um diagnóstico feito no Rio Grande do Sul também já mostrou o que precisa ser melhorado, ou até criado, nas cidades que compõem a rota local. Segundo Soares, do IBGM, o circuito gaúcho começará em Porto Alegre, passará por Lajeado, Soledade, Guaporé (pólo de jóias e também de lingerie), Frederico Westphalen e Ametista do Sul. “Ali há uma mina de ametista completamente estruturada para visitação, bem ao lado de um museu, que pode servir de exemplo para as demais”, conta Soares.
Segundo o consultor do IBGM, hoje, chineses e indianos desembarcam no estado para comprar não quilos de pedras preciosas, mas toneladas. “É esse público que já vem para fazer negócios que temos que focar”, diz.
O mercado das pedras
Paralelamente ao trabalho junto ao ministério do Turismo, o IBGM tem incentivado cada vez mais os empresários do setor a comercializar a pedra lapidada em vez da bruta. “De preferência, que já venda a jóia. Quanto mais elaborado, mais valor tem, mais o setor cresce”, diz. Em 2007, o setor de jóias, gemas e pedras brutas gerou US$ 1 bilhão.
O projeto dos circuitos de gemas e jóias é apenas um braço da parceria entre o IBGM e o Ministério do Turismo. Existem outras iniciativas conjuntas como as jóias com temas turísticos e as jóias de souvenir, que retratem símbolos como o Cristo Redentor, a sambista, o bondinho, o caneco de chopp, entre outros. “A idéia é desenvolver ações estruturadas que associem gemas e jóias ao turismo”, diz.
Quando os roteiros estiverem prontos, preparados para receber turistas, o IBGM pretende divulgá-los nas 20 feiras que eles participam todos os anos, entre elas, uma em Dubai e outra na Arábia Saudita. “A Arábia Saudita é hoje uma grande produtora de jóias e vem desbancando países tradicionais como a Itália”, conta Soares. “Nós temos muito interesse por essa região (países árabes), pois ela está se desenvolvendo muito rápido nesse setor”, diz.
Além do público de negócios, o IBGM pretende divulgar os circuitos de gemas e jóias também entre o público científico. “Participamos de fóruns por todo o mundo e sempre estamos em contato com mais de 50 instituições do ramo de diversos países”, diz.
No que depender do IBGM, do Ministério e do Sebrae, o ouro e as pedras preciosas dividirão espaço com o samba, o Rio e as cataratas do Iguaçu muito em breve.
Anba