No trilhos do cinema
22/09/07
Antônio Dias (MG). São 16h30 de terça-feira. O trem de passageiros da Estrada de Ferro Vitória a Minas acaba de passar por Antônio Dias, cidade às margens do Rio Piracicaba, um dos afluentes do Rio Doce, em Minas Gerais. Além do pequeno atraso no horário do trem, que normalmente passa às 15h50, a rotina da localidade é alterada pela chegada de uma tela inflável, projetor e caixas de som. A estrutura, montada em uma travessa ao lado da Matriz de Nossa Senhora de Nazaré, construída há 270 anos, é o palco do projeto Cinema nos Trilhos. Lançada em 2005 no Pará e no Maranhão, a iniciativa da Fundação Vale do Rio Doce chega, neste ano, a cinco comunidades mineiras e três capixabas cortadas pela ferrovia. Por uma noite, a população de Fundão, João Neiva e Baixo Guandu, onde não há sala de exibição, terá uma sessão de cinema gratuita, ao ar livre. Fascínio . “O objetivo é resgatar um pouco da magia e da importância do cinema onde muitas pessoas não viram esse universo”, diz o gerente de projetos da Fundação, Sérgio Dias. São pessoas como a chapeleira Conceição dos Reis, que nunca foi ao cinema e não possui televisão em casa. “De manhã e à tarde, cuido da casa. À noite, vou para a igreja e tranço”, conta a artesã, que no trançado da palha produz os chapéus vendidos a R$ 2 cada unidade. “O pessoal compra, mas não tem valor”. A cidade de Antônio Dias, com seus dez mil habitantes, tem no minério a sua principal fonte de renda. “Tinha um cinema aqui, quando eu ainda era criança. Vou fazer o possível para ir hoje, fechar o comércio mais cedo”, conta seu Benedito de Oliveira Silva, 55, dono de uma mercearia próxima à parada do trem. A sessão começa com um vídeo institucional da empresa. Um dos objetivos do projeto é melhorar a relação das comunidades com a linha férrea. Em Fundão, na Região Metropolitana de Vitória, por exemplo, os acidentes acontecem com freqüência. “Apesar de existir viaduto e passarela, as pessoas insistem em atravessar a linha”, diz Célia Curto, diretora do Departamento de Cultura da cidade. Mas as ações da companhia acontecem apenas uma vez por ano. “De um modo geral, a Vale ajuda o município. Mas projeto cultural, o que eles têm feito é só isso”, complementa. Em cada município por onde passa o projeto, é produzido um documentário com personagens e histórias do lugar. “É um evento que mobiliza toda a cidade. Uma troca intensa da equipe com a comunidade”, analisa Inácio Neves, produtor do Cinema nos Trilhos. Depois de exibido o documentário, o público pode assistir à animação “Albertinho”, do Projeto Animação, ao curta “Da Janela do Meu Quarto” (Cao Guimarães) e ao longa “Tapete Vermelho” (Luiz Alberto Pereira). “Devem ser filmes que possam ser vistos por todos”, conta Inácio. “O diferencial deste ano são os curtas”, diz Sérgio Dias. O projeto é financiado pela lei de incentivo à cultura, e o investimento foi de R$ 950 mil. No ano passado, foram atendidas dez cidades; neste ano, são 33. Além de Minas, Espírito Santo, Pará e Maranhão, o cinema também chega à Bahia e a Goiás, em locais distantes dos grandes centros. A realidade de Antônio Dias é compartilhada por diversos locais do interior do país. “A atuação da empresa na cidade é pontual. Mais por falta de interesse da sociedade e do poder público”, diz Francisco Ataíde, presidente da Associação Local do Patrimônio Histórico de Artístico (Alpha). Além das festas religiosas, não há opções culturais e de lazer na cidade. “A empresa poderia ajudar mais. Não tem nada de cultura”, diz Aloísio Pereira, 58, funcionário aposentado da Vale e Presidente da Associação Comunitária Rádio Integração. O repórter viajou a convite da organização do evento. Por onde passa o trem do cinema Fundão. Hoje, às 19h, na Rua Presidente Vargas (em frente ao Maracaiá Clube), Centro João Neiva. Amanhã, às 19h, na Rua dos Três Poderes (atrás da Prefeitura), Centro Baixo Guandu. Terça-feira (25), às 19h, na Praça Getúlio Vargas (próximo ao antigo Cine Alba), Centro
A Gazeta – ES