Novo documentário sobre Reserva Natural Vale mostra trabalho das equipes de combate à caça e a incêndios
25/09/18
Como manter preservada uma área singular de Mata Atlântica no litoral norte do Espírito Santo por 40 anos praticamente intacta? A resposta está no trabalho incansável de uma equipe de 24 vigilantes e inspetores ambientais, que se reversam na chamada “proteção ecossistêmica” da Reserva Natural Vale (RNV), mantida pela Vale em Linhares. Eles têm a função de combater invasões de terra, coibir a caça, a coleta ilegal de plantas e animais silvestres e de prevenir e controlar incêndios florestais.
O trabalho desses “protetores da mata” é o foco do segundo episódio da série documental do projeto V.Doc para celebrar os 40 anos da Reserva Natural Vale como área oficialmente protegida. A proteção ecossistêmica da RNV foi criada em 1978, no mesmo ano em que a área foi destinada exclusivamente à conservação e à pesquisa científica de fauna e flora, em uma iniciativa inédita no Brasil, reconhecida pelo então Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF), órgão sucedido pelo Ibama. “A importância dessas equipes é para que a Reserva permaneça existindo do jeito que está”, afirma Anderson Brito de Aguiar, analista de Segurança Patrimonial da Vale, que coordena o trabalho de proteção ecossistêmica.
Em 1999, a Vale e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), responsável pela Reserva Biológica de Sooretama, contígua à RNV, assinaram um convênio e a proteção ecossistêmica foi estendida àquela área também. Juntas, elas somam quase 50 mil hectares, representando um dos últimos grandes remanescentes da Floresta de Tabuleiro, que, por ser plana e estar na região litorânea, é uma das formações florestais atualmente mais ameaçadas do bioma Mata Atlântica.
A importância dos vigilantes e inspetores ambientais pode ser medida em números. Entre 2015 e 2017, foram apreendidas nas reservas Vale e Sooretama 182 armas de fogo e branca; 452 equipamentos de caça foram destruídos; e 102 caçadores, presos.
Hoje, Reserva Natural Vale tem catalogadas cerca de 5 mil espécies de plantas e animais, entre os quais mais de 160 estão ameaçadas de extinção e 64 são consideradas endêmicas. Por promover e disseminar no seu âmbito e entorno atividades ligadas à proteção da biodiversidade, desenvolvimento sustentável e à produção de conhecimento científico sobre a Mata Atlântica, no ano de 2008, a Reserva Natural Vale recebeu o título de Posto Avançado da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, conferido pela Unesco. O título foi renovado duas vezes, respectivamente, em 2013 e 2017.
O segundo episódio de “Histórias da Reserva” está disponível na página do V.Doc no vale.com/vdoc e no youtube.com/vale.
Origem
A RNV é resultado da compra pela Vale de 102 propriedades entre os anos 1950 e 1970 com o intuito de constituir uma reserva futura para fabricação de dormentes. Na época, havia uma preocupação de que houvesse falta de matéria-prima para a fabricação de dormentes necessários à duplicação da Estrada de Ferro Vitória a Minas (EFVM). A ordem para a compra das fazendas partiu de Eliezer Batista, então superintendente da EFVM. No livro Conversas com Eliezer (editora Insight), o engenheiro revela que a reserva de dormentes era um subterfúgio para manter parte daquela mata ao norte de Linhares livre da intensa devastação.
“Para obter a aprovação da diretoria da Vale do Rio Doce, precisamos dizer que as árvores se destinariam à produção de dormentes para estradas de ferro. Fiquei na Vale do Rio Doce por um longo tempo e nunca se tirou um dormente sequer daquela floresta. Mas, para isso, foi necessário usar um subterfúgio, caso contrário a aquisição da floresta não seria autorizada. Pecadilho que assumo como bondosa travessura e relembro com uma boa dose de satisfação, não pelo meu arroubo de voluntarismo do passado, mas sim pela confirmação do acerto da decisão”, afirmou Eliezer.
A ideia da reserva de dormentes, de fato, foi abandonada por questões econômicas. No fim dos anos 1960, a Vale decidiu investir em reflorestamento para fins industriais (papel e celulose) em áreas ao longo da EFVM, nos estados do Espírito Santo e de Minas Gerais, usando para isso a RNV como laboratório de pesquisa. Datam daquela época as primeiras conversas sistemáticas entre ambientalistas e técnicos da empresa.
“A escolha de área protegida foi muito importante e eu acho que isso ocorreu por causa da aproximação de alguns pesquisadores que estavam começando a pensar em conservação. Eles se aproximaram da Vale e a Vale se aproximou deles”, conta Ariane Luna Peixoto, botânica do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, que dedicou alguns anos de sua vida a pesquisas na Reserva.
Segundo o especialista em Biodiversidade da Vale, Luiz Felipe Campos, a Reserva Natura Vale marca o início da consciência ambiental na Vale. “A experiência vivida ali serviu de base para o desenvolvimento da primeira política ambiental estruturada dentro da empresa, nos anos 1980”, explica Campos. As primeiras trocas entre empregados da Vale e pesquisadores surgidas na Reserva Natural Vale evoluíram para a criação, pelo então presidente da Vale, Eliezer Batista, do Grupo de Estudos e Assessoramento sobre Meio Ambiente (Geamam) em 1980. O Geamam contribuiu decisivamente para a viabilidade do conjunto de cinco áreas naturais protegidas atualmente pela Vale ao redor da Mina de Carajás, no Sudeste do Pará. O chamado “Mosaico de Carajás” é o maior maciço de Floresta Amazônica conservado naquela região, com 765 mil hectares, dos quais as operações da Vale impactam apenas 1,4% deste total.
Sobre a Vale
A Vale é uma mineradora global que tem como missão transformar recursos naturais em prosperidade e desenvolvimento sustentável. Líder mundial na produção de minério de ferro e níquel, tem sede no Rio de Janeiro e está presente em cinco continentes. Opera sistemas logísticos integrados, com cerca de 2 mil quilômetros de ferrovias, terminais marítimos e 10 portos, entre Brasil, Indonésia, Malásia e Omã. Comprometida com os mais altos níveis de governança, a Vale apoia 52 projetos sociais e culturais em 65 municípios brasileiros, por meio da Fundação Vale, e protege ou ajuda a proteger 8,5 mil km2 de áreas nativas no País.