Procura-se mão-de-obra na mineração
18/11/07
Região Norte é a campeã nacional da carência de profissionais A região Norte é campeã em saldo negativo de oferta de mão-de-obra qualificada, no ranking de regiões registrado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). No Norte, segundo pesquisa divulgada esta semana pelo órgão, existe uma estimativa de demanda de 99.031 empregos formais, porém, a oferta de mão-de-obra qualificada é de apenas 69.940 trabalhadores, o que representa um saldo negativo entre oferta e demanda de -29.091 trabalhadores. As duas outras regiões que apresentaram saldo negativo foram o Sul (- 26.335) e o Centro-Oeste (-13.447). A pesquisa do IPEA também levou em conta os setores da economia e aponta a mineração como a que mais necessita de profissionais qualificados. No Brasil, enquanto em setores como a construção civil, agropecuária, indústria extrativa vegetal e animal e serviços há excedente de mão-de-obra qualificada, no sentido inverso, a indústria de transformação e extrativa mineral apresentam uma carência estimada de mão-de-obra qualificada de quase 117 mil pessoas em 2007, o que equivale a 26,2% dos empregos anualmente criados neste setor. `Vivemos um momento em que a mineração enfrenta o problema da falta de capacitação do trabalhador e da falta de mão-de-obra qualificada. Os profissionais mais experientes estão se aposentando e a carência de novos trabalhadores é grande`, afirma o presidente do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), Paulo Camillo Penna. A entidade representa mais de 80% das empresas do setor no Brasil. Rinaldo Mancin, diretor de Assuntos Ambientais do Ibram, lembra que no Norte a situação fica mais difícil ainda, devido às peculiaridades da região. `Essas dificuldades são maiores ainda se transpormos para a realidade da Amazônia, onde a mineração está chegando a regiões longe dos grandes centros e capitais, onde consequentemente, a mão-de-obra necessária tem que ser totalmente formada. Um bom exemplo dessa complexidade pode ser conhecida pelos desafios que cercam o empreendimento de extração de bauxita que a Alcoa implanta em Juruti, no qual um volume substantivo de recursos está sendo investido na formação de mão-de-obra local, reforçando a integração com as comunidades locais`, completa Mancin, referindo-se a um projeto de mineração de bauxita que está sendo implantado no oeste paraense. PARÁ O Pará é reconhecido hoje como o segundo maior Estado minerador do Brasil, detentor de 22% da produção nacional, atrás apenas de Minas Gerais, com 44%. Com a expectativa da mineração paraense dobrar sua produção para mais de US$ 14 bilhões até 2010, o problema da falta de mão-de-obra para o setor torna-se mais alarmante ainda. Paulo Camillo Penna, do IBRAM, conta que, para reverter o quadro, o Instituto Brasileiro de Mineração irá discutir o tema na 2ª Conferência de Responsabilidade Socioambiental da Amazônia ? Mineração Sustentável, que o Ibram promove em Belém nos dias 19 e 20 de novembro, no Teatro Maria Sylvia Nunes. O Ibram também lançou o Programa Especial de Saúde e Segurança do Trabalho na Mineração, que tem como objetivo diminuir o número de acidentes de trabalho no setor por meio de implantação de uma série de medidas, como programas de treinamento e intercâmbio. De acordo com o Instituto, bons salários, oportunidade de crescimento e qualidade de vida são propostas apresentadas para contornar a situação da falta de mão-de-obra. Rinaldo Mancin ressalta que é preciso que as empresas estimulem ou até mesmo divulguem as propostas de trabalho com mais afinco como forma de ´chamamento´. `Quem oferecer as melhores oportunidades de carreira vai ficar com os melhores profissionais`, finaliza. Carência de profissionais leva empresa a investir na qualificação Para contornar o déficit de trabalhadores capacitados, muitas empresas que atuam no setor de mineração estão buscando parcerias para garantir a qualificação de mão-de-obra nos seus projetos. A Alcoa Mina de Juruti firmou parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) do Pará para levar cursos profissionalizantes para os moradores do município de Juruti, no extremo Oeste do Estado, onde a Companhia implanta uma mina de extração e beneficiamento de bauxita.
Em Juruti, por meio da parceria, mais de seiscentas pessoas já participaram dos cursos profissionalizantes, com foco na capacitação dos trabalhadores locais. As aulas ocorrem no Galpão do Produtor Rural, cedido pela Prefeitura de Juruti e reformado pela Alcoa até que a escola permanente do SENAI no município fique totalmente concluída. A unidade deve estar pronta ainda no ano que vem. Segundo o diretor de gestão do SENAI no Pará, Dário Lemos, cerca de quatro mil pessoas devem ser qualificadas pelos próximos dois anos. `Essa parceria é muito importante para levar qualificação aos que buscam uma vaga no mercado de trabalho, mas também serve de incentivo para aqueles que buscam aperfeiçoamento e visam uma oportunidade de evoluir profissionalmente e garantir um futuro melhor`, afirma Dário. Para a Alcoa, o investimento em qualificação no próprio município representa também uma forma de valorizar a mão-de-obra local. `Em Juruti, diante da realidade local, observamos que para priorizar a mão-de-obra local teríamos, inclusive, que investir na formação profissional. Essa parceria está indo muito bem. Bons profissionais estão no mercado de trabalho. A procura pelos cursos é grande`, conta Mauricio Macedo, gerente de Sustentabilidade e Assuntos Institucionais da Alcoa Mina de Juruti. Com investimentos de R$ 1,8 milhão, a Alcoa formalizou contrato de dois anos com o SENAI e deu início em meados do ano passado ao processo de qualificação de pessoas para trabalhar na indústria de mineração. Recentemente, a Companhia também implementou o Programa de Formação de Operadores e Operadoras (PFO), que é realizado em Juruti para suprir a necessidade de pessoas para atuarem na planta industrial do empreendimento `O que a gente tem como resultado disso é principalmente a empregabilidade das pessoas de Juruti. Nosso processo seletivo buscará no PFO os profissionais que farão parte do quadro de funcionários da empresa`, afirma a gerente de Recursos Humanos da Alcoa, Neuza Silva, acrescentando que as aulas começam em 12 de novembro. Vale do Rio Doce capacita trabalhadores para o projeto Salobo Segundo Dário Lemos, do Senai, outras empresas do setor de mineração procuram a entidade para montar cursos que não existem no Estado. Entre elas, a Companhia Vale do Rio Doce, que está implantando o Projeto Salobo, com capacidade para processar 12 milhões de toneladas de minério de cobre. A expectativa é de geração de uma média de 3.500 empregos durante a fase de construção, em Canaã dos Carajás. O projeto deverá entrar em operação no primeiro semestre de 2010. Pela parceria entre o Senai e a Vale do Rio Doce, cerca de 500 pessoas devem ser qualificadas até o final deste ano. `O que podemos perceber é que existe emprego, mas a carência de mão-de-obra qualificada dificulta a contratação de pessoal, por isso as empresas nos procuraram, justamente para suprir essa carência. Outra coisa é o custo. Muitas empresas arcam com os custos de qualificar seus colaboradores, outras não possuem programas de aperfeiçoamento contínuo`, explica Dário Lemos. Além do IPEA, outros órgãos como a Confederação Nacional da Indústria (CNI) também realizaram pesquisas que comprovam a carência de mão-de-obra no Brasil. Segundo a CNI, a falta de capacitação do trabalhador é um fato negativo, sobretudo na área de produção, pois restringe o aumento da competitividade. Das 1.714 indústrias entrevistadas, entre os dias 29 de junho e 18 de julho deste ano, 56% possuem problemas de falta de mão-de-obra qualificada. No total, a pesquisa analisou 949 pequenas, 507 médias e 258 grandes empresas. A área de produção é a mais afetada, independentemente do porte da empresa. E a indústria extrativa é um dos setores que mais reclama falta de mão-de-obra. A pesquisa da CNI aponta ainda que a busca pela eficiência é a ação mais afetada por todas as empresas. Das entrevistadas, 36% mencionaram que a falta de mão-de-obra qualificada prejudica a busca pela qualidade de produtos. E 25% que o problema afeta a aquisição de novas tecnologias. O desenvolvimento de novos produtos foi outro ponto citado por 23% das empresas. Uma outra pesquisa, relacionada ao setor mineral, mostra que os problemas relacionados ao fato dos profissionais mais experientes estarem se aposentados não são só brasileiros. Segundo estudo do Departamento de Minas e Minerais da Universidade Virgínia Tech, nos Estados Unidos, a idade média dos profissionais que trabalham na mineração é superior a 40 anos. No leste do País, onde estão localizadas as minas de carvão, a situação é mais preocupante: a média já passa dos 50 anos. Congresso debate desenvolvimento da região Começa segunda-feira, 19, e prossegue até sexta-feira, na Câmara dos Deputados, em Brasília, o I Simpósio Amazônia e Desenvolvimento Nacional, evento que pretende consolidar o Plano Amazônia Sustentável (PAS), criado em 2003 pelo governo Lula para propor alternativas de um novo modelo de desenvolvimento para a região. Ministros, secretários e deputados vão debater temas como a produção agropecuária e a definição de políticas de inclusão social. O simpósio chega a Brasília depois de percorrer os nove Estados que compõem a Amazônia Legal. Segundo a deputada Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), presidente da Comissão da Amazônia, Integração Nacional e de Desenvolvimento Regional da Câmara, em cada Estado aconteceu uma série de debates com as principais propostas para as políticas realmente eficazes frente aos desafios que cercam a região. `O simpósio servirá também para trazermos para o foco das discussões questões sensíveis perante a opinião pública mundial, como ordenamento territorial, geração de renda, instalação das infra-estruturas necessárias ao desenvolvimento e inovações tecnológicas aplicáveis à região`, antecipa a deputada. Entre as propostas está também a criação de um Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) específico para a Amazônia Legal. Segundo o coordenador geral de Planejamento Territorial do Ministério da Integração Nacional, Júlio Miragaya, a idéia do PAS é trazer para a região ações concretas que tirem a Amazônia da mera condição de área extrativista. `Mas é claro que para isso acontecer precisamos dotar a região de condições de infra-estrutura. Por isso o PAS está baseado nas questões fundiária e de ordenamento territorial`, explica. Obras como a pavimentação das rodovias BR-163 (Santarém-Cuiabá) e BR-230 (Transamazônica), as eclusas de Tucuruí e a hidrelétrica de Belo Monte fazem parte do PAS. `São obras que chamamos de ?estruturantes?, que estão dentro das estratégias formuladas pelo PAS e que, na parte de execução, entraram na lista de obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC)`, observa o coordenador. O secretário estadual de Integração Regional, André Farias, detalhou, no simpósio em Belém, ocorrido na última segunda-feira, as diretrizes de trabalho do governo do Estado, a maioria, lembrou ele, discutida em doze plenárias regionais e 143 assembléias municipais, com a participação de mais de 80 mil pessoas de todo o Estado, dentro do Planejamento Territorial Participativo (PTP).
O Liberal – Pará