Usiminas vai expandir produção e exportar minério de ferro
12/02/08
Mal o negócio saiu do forno e a Usiminas já desenhou um plano de investimento para elevar a produção de minério de ferro do grupo J. Mendes, comprado pela siderúrgica brasileira no último dia primeiro de fevereiro, após quatro meses de negociações e de a empresa ter vencido concorrentes de peso que disputaram esses ativos, compostos por quatro minas localizadas na região de Itaúna, no quadrilátero ferrífero mineiro. Rinaldo Campos Soares, presidente da Usiminas, anunciou ontem que a companhia deverá investir US$ 750 milhões para aumentar a capacidade das instalações dos atuais 6 milhões de toneladas por ano de minério de ferro para 29 milhões até 2013, a fim de atender tanto o mercado interno quanto a crescente demanda internacional, o que significa que a empresa irá exportar o excedente que suas usinas não consumirem e irá disputar um mercado cada vez mais valorizado. O plano de expansão está dividido em duas etapas. A primeira prevê aportes de US$ 150 milhões na melhoria das instalações atuais e na implantação de um acesso ferroviário, que deverá suprir com o insumo principalmente a Cosipa, usina do Sistema Usiminas localizada em Cubatão (SP). Esse estágio será colocado em pratica entre 2008 e 2010, quando a capacidade das instalações deverá atingir mais que o dobro em comparação a atual e chegará a 13 milhões de toneladas por ano. Entre 2011 e 2012, a Usiminas deverá investir mais US$ 600 milhões na implantação de uma nova instalação, o que deverá elevar a produção para 29 milhões de toneladas de minério de ferro anuais a partir de 2013. O grupo J. Mendes produziu no ano passado 4,3 milhões de toneladas de minério, para uma capacidade perto de 6 milhões, e faturou R$ 244 milhões. Soares informou que as quatro minas têm recursos totais esperados de 2,7 bilhões a 3 bilhões de toneladas, reservas esperadas de 1,1 bilhão a 1,8 bilhão de toneladas e vida útil perto de 25 anos. A compra já custou à Usiminas US$ 925 milhões, em dinheiro e à vista, mas poderá alcançar até US$ 1,9 bilhão. O restante será pago parceladamente, nos próximos dois anos, à medida que a Usiminas constate a real capacidade da reserva e até o limite de 1,4 bilhão de toneladas. `Se encontrarmos mais que isso, nada pagaremos além.` A cada novos 100 milhões de toneladas de minério de ferro constatados, a empresa fará um pagamento. `Se o grau de conteúdo de ferro for menor (hoje é estimado em 47%), o valor cai.` O pagamento inicial foi feito com dinheiro do caixa da própria Usiminas, que, contudo, deverá fazer uso de um empréstimo-ponte de US$ 800 milhões, aprovado junto ao HSBC, para manter sua liquidez. Soares não considera que o desembolso pelos primeiros ativos da siderúrgica na área de minério de ferro foi alto, apesar do momento valorizado do setor, impulsionado pelo crescimento da demanda, em especial por parte da China, e da baixa oferta do insumo. `Não foi barato, mas também não foi caro. Ficamos na média dos negócios que estão sendo fechados.` A aquisição é considerada estratégica por Soares, já que diminuirá gradativamente a dependência da empresa pelo insumo. `O modelo de negócio integrado cria valor, dá maior estabilidade de margem, competitividade ante as usinas integradas e maior competitividade em relação as siderúrgicas não integradas, além de que será um hedge natural para o minério que teremos de comprar.` Conforme o executivo, a Usiminas consome atualmente cerca de 15 milhões de toneladas por ano de minério para uma produção de cerca de 9 milhões de toneladas de aço. O minério da J. Mendes atenderá cerca de 85% da necessidades da Cosipa (que hoje consome em torno de 6,8 milhões de toneladas de minério de ferro por ano) e os planos de expansão da Usiminas (que pretende elevar em 50% a capacidade até 2015). Quando a produção de minério da J. Mendes atingir 29 milhões de toneladas, Soares estima que a Usiminas utilizará entre 17 milhões e 18 milhões, vendendo ao mercado interno e exportando, em contratos fechados, o excedente. Hoje, a J. Mendes vende principalmente no mercado doméstico para guseiras e tem contrato de fornecimento de 2 milhões de toneladas anuais para a Companhia Vale do Rio Doce, que faz parte do bloco controlador da Usiminas. A unidade da Usiminas em Ipatinga (MG), que produz 4,5 milhões de toneladas de aço por ano, continuará sendo atendida pelo minério fornecido pela Vale, por questões contratuais e de logística, disse Soares. A decisão pela verticalização não veio tarde, na avaliação de Soares. `Antes não havia tanta demanda e o minério era abundante e não tão caro. Com o aumento do preço do minério (que subiu cerca de 200% nos últimos cinco anos), as usinas perceberam que estavam repassando boa parte do valor para a base, para os fabricantes da matéria-prima., e a verticalização e consolidação – para ter poder de barganha – se tornou uma tendência. O fornecedor (de minério) está extremamente consolidado e o setor siderúrgico pulverizado.` Conforme o executivo, a empresa não pensa, por ora, em novas compras nessa área. `Mas só o tempo dirá.` Contudo, segundo uma fonte da empresa, a J. Mendes foi apenas a primeira aquisição da Usiminas no setor mineral e outras serão realizadas, sobretudo de minerações no trecho atendido pela ferrovia MRS Logística, ferrovia na qual Vale detém apenas uma parte do capital.
Gazeta Mercantil