Vale lidera expansão das brasileiras no exterior
12/01/07
Vale lidera expansão das brasileiras no exterior Estratégia Jonathan Wheatley Financial Times Um acordo, mais do que qualquer outro, exemplificou o avanço das empresas brasileiras em novos mercados durante 2006: a aquisição, por US$ 17,6 bilhões, da mineradora canadense Inco pela Companhia Vale do Rio Doce, que já era a maior exportadora mundial de minério de ferro e cada vez mais se consolida uma força dominante como fornecedora da indústria siderúrgica mundial. O acordo não apenas transformou a Vale e o setor minerador de todo o mundo, tornando a empresa o segundo maior grupo minerador global, em valor de mercado. Também marcou um ano histórico para o Brasil em termos de entradas e saídas de investimentos.
;No ano passado, pela primeira vez, os investimentos de empresas brasileiras no exterior superaram os investimentos externos diretos (IEDs) no Brasil. Foram investidos mais de US$ 26 bilhões por grupos brasileiros no exterior, enquanto houve entrada em torno de US$ 18 bilhões – um ligeiro aumento nos IEDs no Brasil em relação aos anos anteriores.
“Estamos passando por uma revolução”, diz Ivan Clarke, sócio da consultaria Pricewaterhouse-Coopers (PwC), em São Paulo. “As empresas brasileiras procuram por opções além do Brasil e estão subindo ao palco mundial para fazê-lo”, completa.
Isso não ocorre apenas pelo notável dinamismo de muitas das empresas brasileiras de maior sucesso. Também reflete a lentidão dos mercados domésticos.
A expansão do Produto Interno Bruto (PIB) no ano passado deve ter ficado em menos de 3%, marca desencorajadora, próxima ã média de 2,5% dos últimos 15 anos. Muitas grandes empresas estão sendo obrigadas a olhar para o exterior em busca de oportunidades de crescimento. O executivo-chefe da Vale, Roger Agnelli, afirmou em almoço no fim do ano que a compra da Inco dá à empresa “um sócio extraordinariamente forte que pode alavancar a Vale a dar passos ainda maiores no futuro”.
Antes do acordo com a Inco, a Vale possuía operações em 11 países além do Brasil – na Ásia, África, Europa e América – e escritórios em outros cinco. A maior fonte de crescimento, de longe, é a China.
;”Rezamos todos os dias para que a China continue crescendo e investindo, para que possamos continuar surfando nessa onda que a China envia para todo o mundo”, afirmou Agnelli.
;A forte demanda global comandada pela China elevou as exportações da Vale para US$ 10 bilhões em 2006, 37% a mais do que em 2005. A empresa entrou em empreendimentos conjuntos com sócios na China em projetas de mineração, como carvão e coque, embora uma usina siderúrgica a ser construída no norte do Brasil junto com a Baosteel tenha sido adiada, depois de atrasos na obtenção de aprovação das autoridades reguladoras brasileiras.
;A Vale atravessou um longo caminho desde sua privatização em 1997. Era um conglomerado errante, com operações fora de sua área principal siderúrgica, como de fertilizantes, papel e celulose. Sua transformação deve muito a Agnelli, executivo-chefe desde 2001. Sob seu comando, a Vale tornou-se uma empresa que oferecia tudo o que a indústria de siderurgia global precisava, concentrando seus investimentos em minérios ferrosos ou não-ferrosos, mas relacionados ao aço, e em infra-estrutura de transporte, como portos e estradas ferroviárias.
;Entre maio de 2000 e junho deste ano vendeu a operações fora de sua linha principal de atuação por US$ 2,5 bilhões e fez investimentos de US$ 6 bilhões, antes dos US$ 17,6 bilhões que gastou pela Inco. O valor de mercado na privatização era de US$ 7,9 bilhões. Agnelli traçou como meta elevá-lo para US$ 25 bilhões até 2010, um objetivo questionado por muitos na ocasião, mas há muito superado: hoje, a capitalização de mercado da empresa gira em torno a US$ 67,3 bilhões.
Valor Econômico / Financial Times