Anglo American quer uma `Carajás` no Brasil
23/01/08
A mineradora britânica Anglo American pretende atingir, em 10 anos, a produção de 100 milhões de toneladas de minério de ferro por ano no Brasil, ganhando escala suficiente para reduzir a concentração do mercado hoje em mãos da Vale, responsável por mais de 90% da produção nacional. O valor corresponde à produção estimada para este ano de Carajás, no Pará, o maior complexo de minério de ferro da Vale. Segundo a presidente mundial da Anglo American, Cynthia Carrol, a meta vai exigir investimentos de US$ 16 bilhões no período. A executiva informou que a produção adicional será obtida, basicamente, da ampliação do projeto Minas-Rio, envolvido nas negociações com a MMX. `Vamos continuar explorando e perfurando no Brasil, mas o crescimento se dará pela Minas-Rio`, afirmou Cynthia, em entrevista coletiva concedida na sede da empresa controlada por Eike Batista, no Rio. O otimismo da multinacional com o projeto pode dar pistas sobre o valor do negócio fechado com MMX, de US$ 5,5 bilhões. Esse valor foi considerado alto pelo mercado. `Acreditamos que o preço pago pela Anglo American na aquisição dos dois sistemas (Minas-Rio e Amapá) tenha sido bastante elevado`, disse, em relatório divulgado na sexta-feira, o analista Rodrigo Ferraz, do banco Brascan. Segundo cálculos feitos por Ferraz, a mineradora desembolsou pelo menos US$ 150 por tonelada de minério, sem contar com os investimentos necessários para desenvolver as jazidas. É quase o triplo dos US$ 56 por tonelada pagos pela própria MMX nas compras das mineradoras AVG e Minerminas, concluídas recentemente. A grande diferença estaria relacionada ao potencial de crescimento do projeto Minas-Rio, na avaliação de uma fonte próxima às negociações entre os dois grupos. O projeto inicial, elaborado pela MMX, previa uma produção de 26,5 milhões de toneladas por ano, limitada pelo tamanho do mineroduto que ligará a jazida ao porto do Açu, no litoral Norte do Rio. Um novo mineroduto, porém, já está em estudo. Crescimento Segundo Cynthia, o Brasil terá papel preponderante no crescimento da Anglo American, que hoje tem apenas 3% do mercado mundial de minério de ferro, com uma produção de 31 milhões de toneladas. A companhia planeja atingir um volume de 150 milhões de toneladas em 10 anos, dos quais 100 milhões serão produzidos aqui. O restante virá, em sua maior parte, do projeto Kumba, na África do Sul, onde a Anglo concentra hoje sua produção de minério. A presidente da multinacional disse não acreditar em grandes impactos da crise econômica americana no comércio mundial de minério de ferro. `O principal fator que impulsiona o mercado é a China, que vai continuar em processo de crescimento, vai continuar a urbanização e vai continuar dependendo de minério de ferro`, avalia. Por outro lado, ela disse, a companhia vem buscando projetos com baixo custo de construção, para passar com mais folga por um ciclo de baixa nos preços.
Agência Estado