Brasil deve crescer mais, apesar da crise nos EUA
30/12/07
O Brasil vai entrar em 2008 com o pé direito, ao menos no que diz respeito ao comportamento da economia, que vem de um 2007 em que vários setores – siderúrgico, minerador, automotivo e de informática, por exemplo – bateram recordes de vendas e produção, o desemprego caiu e a massa salarial aumentou. As projeções de mercado, conforme o último relatório Focus do Banco Central, que consulta as principais instituições financeiras do país, indicam que o Produto Interno Bruto (PIB) – soma das riquezas do país _ deverá crescer cerca de 4,5% no ano que vem, o que não será nada mau, quando se considera que o índice de 5,2% estimado como resultado de 2007 parte de uma base menor de comparação. A inflação também deverá se manter sob controle, situando-se em 4,25%. Porém, mesmo o mais otimista dos analistas reconhece que há nuvens no horizonte do ano que se inicia depois de amanhã, precisamente sobre a gigantesca economia norte-americana, que tem grande influência sobre o resto do mundo.As incertezas que vêm do hemisfério Norte têm origem em empréstimos imobiliários concedidos a consumidores americanos com histórico de maus pagadores, o chamado mercado subprime, onde as taxas de juros são mais salgadas para compensar o risco maior de inadimplência. Durante todo o ano de 2007, bancos internacionais anunciaram prejuízos em seus balanços por conta destas operações, o que detonou uma crise de crédito que ameaça se propagar pelo mundo. Já há quem fale em possibilidade de recessão nos Estados Unidos (EUA), mas, por enquanto, o mercado trabalha com o sinal amarelo aceso, apenas reduzindo projeções de crescimento.Conforme relatório do banco suíço UBS, líder mundial em Wealth Management (gerenciamento de fortunas), depois de cinco anos de vigoroso crescimento da renda per capita e dos lucros das empresas, deverá haver desaceleração da produção no próximo ano, com particular enfraquecimento nos EUA. O UBS aponta que o setor financeiro foi a primeira vítima da crise dos empréstimos subprime nos EUA, e alerta que somente agora os efeitos das perdas começam a aparecer para consumidores e mercado de trabalho.Ainda de acordo com o UBS, os EUA «mal conseguirão evitar uma recessão», mas o banco central daquele país tem reduzido juros e adotado medidas para evitar a contaminação do restante da economia pela crise. Além da ação do FED, o UBS vê como antídoto à recessão no maior mercado do mundo a boa situação das companhias norte-americanas, que têm níveis elevados de fluxo de caixa e endividamento saudável.Mesmo que os EUA patinem no baixo crescimento, os reflexos deste movimento serão amortizados pela redução da dependência de muitas economias em relação à potência hegemônica. Conforme o UBS, em 1999, mais de um terço das exportações japonesas iam para os EUA, e, hoje, o total não passa de um quarto. Ao mesmo tempo, a influência de mercados emergentes, como a China, continuará a aumentar, com grandes possibilidades de o país asiático ultrapassar a Alemanha e se tornar a terceira economia do planeta. «A economia mundial certamente poderia manter-se vibrante graças à força dos mercados emergentes», aponta o UBS.Diante deste cenário, o UBS projeta que o PIB dos EUA deverá desacelerar de 2%, em 2007, para 1,8%, em 2008. No mesmo intervalo, o Japão iria de 1,8% para 1,6%; a Alemanha, de 2,7% para 2%; a França, de 1,8% para 1,5%; e a Itália, de 1,8% para 0,9%.Como a economia global é cada vez mais conectada, os países emergentes sentiriam o tranco, porém com menos força do que em épocas anteriores. «Esperamos que alguns dos maiores mercados emergentes – Brasil, Rússia e México, por exemplo – apresentem um sólido crescimento no próximo ano», indica o UBS. O banco vê o Brasil crescendo 5% em 2008, atrás da Rússia (7%), mas à frente do México (3,2%) e quase empatado com a média mundial (4,8%).Investimentos sinalizam alta do empregoOs ventos favoráveis à economia brasileira, apesar das nuvens no horizonte internacional, devem continuar a soprar em 2008, com reflexos positivos no mercado de trabalho. No ano que termina, o mercado doméstico ficou aquecido o suficiente para animar as empresas a retirarem projetos de investimento das gavetas, com clara sinalização de abertura de vagas. Em Minas Gerais, projetos bilionários foram anunciados durante o ano, com previsão de geração de milhares de empregos. Apenas no setor industrial, Usiminas, CSN, VSB e Fiat deverão abrir quase 35 mil vagas durante as fases de implantação e operação de novos projetos nos próximos anos. Também shoppings, supermercados e lojas de eletrodomésticos tocam programas de expansão no Estado e no país.Com esse cenário, mesmo que a economia cresça um pouco menos do que em 2007, a tendência é de que a taxa de desemprego continue a cair. Isso, depois de ter atingido 8,2% na média das seis principais regiões metropolitanas do Brasil em novembro, a menor da série histórica iniciada em março de 2002 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).O comportamento do desemprego medido pela Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED), da Fundação João Pinheiro (FJP) e do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), seguiu trajetória similar à apurada pelo IBGE, apesar de os levantamentos adotarem metodologias diferentes, o que resulta em índices não coincidentes. Conforme a PED, o desemprego da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH) ficou em 11,1% em novembro, aproximando-se da taxa de igual período de 1996, quando a pesquisa teve início e apurou as menores taxas de desocupação. De acordo com o coordenador técnico do estudo pela FJP, Plínio de Campos Souza, o desemprego deve continuar a cair em 2008, porém em ritmo menor.O subsecretário de Trabalho, Emprego e Renda da Secretaria de Desenvolvimento Social de Minas Gerais, Antônio Eduardo de Noronha Amabile, reforça que a tendência é de o mercado de trabalho continuar aquecido em 2008. Conforme Amabile, tudo indica que o Brasil entrou em um ciclo de crescimento que terá reflexos sobre a abertura de vagas no comércio, indústria e serviços.A boa notícia, contudo, traz à tona o problema da má formação da mão-de-obra brasileira, ressalva o subsecretário, que lembra que, se a taxa média de desemprego é de 11%, entre os mais jovens este índice chega a 21%. Para contornar o problema, a pasta desenvolve programas para aumentar a empregabilidade dos jovens. «A idéia é aproveitar a maré boa e dar acesso a estes que não estão empregados», detalha Amabile, que projeta também a abertura de nove postos do Sistema Nacional de Empregos (Sine) no Estado.O presidente da Delp Engenharia, empresa especializada na produção de bens de capital – equipamentos destinados à produção – dos ramos de mineração, petróleo, energia e siderurgia, Petrônio Machado Zica, diz que o setor já se ressente da falta de pessoal. «As nossas fábricas de Contagem e Vespasiano têm 100 a 120 vagas, que a gente não consegue preencher», afirma o industrial, que lista torneiros mecânicos e soldadores como profissionais escassos. «Mas este é um problema bom, que temos que resolver.»Indústrias de bens de capital são um bom termômetro da economia, pois é nelas que primeiro bate a demanda por equipamentos das empresas que estão em ritmo de expansão. De acordo com Zica, que também preside o Sindicato da Indústria da Mecânica no Estado de Minas Gerais, a Delp e todo o setor de bens de capital estão trabalhando com 85% da capacidade instalada ocupada, com encomendas até julho do ano que vem.
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