Ceará vai ganhar usina de urânio em 2011, diz INB
02/10/07
Oito mineradoras do País foram convidadas a participar do processo que apontará a empresa exploradora da usina
Por conta de sua jazida de Itataia no município de Santa Quitéria, o Ceará deve receber uma usina de urânio em 2011. A planta será instalada juntamente com uma unidade de processamento de fosfato, que também tem no minério seu principal insumo, sendo que esta última será executada por uma empresa privada, enquanto a usina contará com capital e exploração federais. O projeto deve consumir investimentos entre US$ 140 milhões e US$ 190 milhões. A maior parte deste valor seria coberta pela agência mineradora: algo entre US$ 120 milhões e US$ 170 milhões, utilizados para a construção da planta de fostato. Os US$ 20 milhões restantes serão aportados pelo INB (Indústrias Nucleares Brasileiras), que é o braço operacional da União na exploração do monopólio do urânio, conforme previsão constitucional. O presidente do INB, Alfredo Tranjam, revelou ontem ao Diário do Nordeste que oito mineradoras do País foram convidadas formalmente a participar do processo que apontará a empresa exploradora da usina. Os envelopes com as propostas devem ser abertos no fim de outubro e o nome da vencedora anunciado em novembro. A participação do governo no projeto é menor em termos de capital por conta do aproveitamento da estrutura da planta de fosfato. ´Os resíduos produzidos pela fábrica de fosfato serão a matéria-prima da usina de urânio´, explica Tranjan. Ele se refere ao chamado ´yellow cake´ (bolo amarelo, em inglês), concentrado de urânio, que serve como base química para o combustível nuclear. De acordo com Tranjam, a produção anual deve chegar a 120 mil toneladas de fosfato e a 800 toneladas de urânio. As quantidades variam em função da engenharia eleita. O Brasil só produz hoje cerca de 48% do fosfato que consome, tendo de buscar o minério em outros países, sobretudo no Marrocos. A fábrica instalada no Ceará não chegará perto de garantir a auto-suficiência, mas diminuirá a dependência.O valor do item varia em função do seu grau de pureza. Como fertilizante, o rendimento é máximo, mas o item é comercializado com baixo valor agregado. Na outra ponta, como ingrediente de suplementos alimentares ou medicamentos, a produtividade menor é compensada pelo elevado valor. Já para o Urânio, o mercado internacional aponta que seu valor chegue, nos próximos anos, à marca de US$ 200 por cada quilo produzido.VÁRIAS JUSTIFICATIVAS – Projeto emperrado há quase 25 anos Quando foi descoberta em 1976 pelo geólogo Givaldo Lessa Castro, Itataia era a sexta maior jazida de urânio do mundo. Mais de trinta anos se passaram e o que seria o grande projeto mineiro do Ceará não deslanchou. O Brasil vinha de um avanço no setor nos anos 70 e, em 1983, César Cals, na pasta de Minas e Energia do governo federal, garantiu o início da construção da usina no ano seguinte. Na época, a implantação foi divulgada pela Nuclebrás. Em 1987, em parceria com a Petrofértil, anunciou que as obras começariam naquele ano, com a empresa Milder Kaiser. O projeto chegou ao século XXI sem sair do papel. Foram apresentadas várias justificativas para os atrasos: falta de empresas para a exploração do minério, dificuldade de acesso, alto custo do beneficiamento do fosfato. A burocracia eleva os custos de financiamento das proponentes, como a Tortuga, cuja carta de crédito expirou em julho de 2006 e teve que retornar ao zero no páreo.
Diário do Nordeste