Compra da J. Mendes muda rumos da Usiminas
16/01/08
A provável aquisição das minas do grupo J. Mendes pela Usiminas, como adiantou o Valor, garantindo auto-suficiência em minério de ferro à siderúrgica mineira a partir de 2012, poderá ser um primeiro passo para mudar a estratégia conservadora da siderúrgica mineira. A expectativa do mercado, que recebeu bem o negócio, é que a empresa passe a uma ação mais agressiva no processo de consolidação da siderurgia mundial, ou corre o risco de perder este “bonde”. Atualmente, a Usiminas só tem uma participação de 14,5% na Ternium, siderúrgica latino-americana controlada pela Techint.Esta atuação limitada no mercado internacional é ressaltada por Marcelo Aguiar, analista de siderurgia da Goldman Sachs, em relatório divulgado ontem sobre a empresa. Mas, avalia a potencial compra da J. Mendes como um sinal positivo de mudança de rumos da siderúrgica mineira. Para Aguiar, o mercado de aço brasileiro, que tem hoje três grupos de aços planos (Usiminas/Cosipa, ArcelorMittal e CSN) e três de de aços longos comuns (Gerdau, ArcelorMittal e Votorantim), deve sofrer fortes mudanças com a entrada em operação de usinas de grandes empresas globais, como a da ThyssenKrupp, (CSA) no Rio, e a da Baosteel, CSV, no Espírito Santo.Elas vieram para fabricar semi-acabados para exportação, mas vão acabar fazendo também laminados para compensar o crédito fiscal que vão acumular em função da compra de matéria-prima no país, aponta o analista. No novo ambiente, a situação pode se complicar para siderúrgicas como a Usiminas, que só contam com o mercado doméstico, que responde por 81% da geração de seu fluxo de caixa descontado (Lajida). “Empresas que só têm um mercado tendem a ser emparedadas pelas grandes empresas globais que poderão optar por estratégias comerciais mais agressivas”, alerta Aguiar. Para o analista, com a auto-suficiência de minério há espaço para novos tempos na Usiminas. De acordo com os números da Goldman Sachs, a empresa hoje produz 9 milhões de toneladas de aço e consome em torno de 14 milhões de toneladas de minério por ano. Com as reservas da J. Mendes, se investir US$ 100 milhões pode dobrar a capacidade de 6 milhões de toneladas para 12 milhões de toneladas ao ano, rapidamente. Se for comprovado que as reservas da mina somam 1,1 bilhão de toneladas, poderá produzir 26 milhões de toneladas por ano em 2012, no momento exato em que a Usiminas estaria produzindo 3 milhões de toneladas a mais de aço em Ipatinga e outro tanto a mais ao lado da Cosipa ou em outro local previsto para seu novo projeto. Ela se tornaria, então, a terceira empresa a ter auto-suficiência em minério no ranking global da Goldman Sachs, junto com a CSN e a russa Novolipestsk.Para garantir as mudanças, Aguiar defende uma reestruturação societária na Usiminas, o que lhe permitiria fazer aquisições, usando dívida e equity (ações) para crescer lá fora, como fez a Mittal. “Como o capital da Usiminas é formado por metade de ações preferenciais e metade de ordinárias, está em melhor situação que Vale e Gerdau para ousar uma unificação de ações”. No relatório, o analista sugere três operações que poderiam agradar o mercado e levar o grupo de controle da Usiminas (Nippon Steel, Votorantim, Camargo Corrêa, empregados e Vale) a avançar de 28% do capital total para quase 40%, sem risco de diluição de sua participação. A primeira operação consistiria na compra da participação da Previ, de 5,8% do capital total, pelos controladores (“a Previ é vendedora”, diz), aumentando sua no capital total para 33,8%. O segundo lance seria adquirir até 10% de ações no “free-float”, cancelando estes papéis. Com isso, iriam a 36,1%. Por último, poderia ser feita uma oferta voluntária de troca de PN por ON aos minoritários, com um prêmio de 20%. A participação dos controladores subiria a 39,1%.
Valor Econômico