Empresas de commodities do País se destacam entre as mais valiosas
03/02/08
Estar na indústria certa costuma funcionar como um eficiente fermento. Graças à China, ultimamente essa regra tem beneficiado os produtores de petróleo e de outras commodities. E o Brasil, pela facilidade de acesso a recursos naturais, mostrou-se competitivo em áreas como mineração, siderurgia e papel e celulose. A Petrobrás, que já fazia parte do clube de elite mundial, ganhou ainda mais notoriedade com as descobertas recentes de petróleo e gás. A Siderúrgica Usiminas, por exemplo, aproveitou como poucas o aumento do consumo mundial. A empresa valia US$ 393 milhões em 2002 e hoje seu valor de mercado é quase 40 vezes maior. Não por acaso a companhia foi a quinta maior geradora de valor para os acionistas do mundo, de acordo com estudo recente da consultoria The Boston Consulting Group (BCG), que avaliou o desempenho de ações de empresas de diversos setores entre 2002 e 2006. Outras seis empresas brasileiras – CSN, Ambev, Vale e as papeleiras Suzano, Aracruz e VCP – aparecem no estudo. Entre as companhias com valor acima de US$ 50 bilhões, a Vale foi a recordista mundial. É uma demonstração clara de mudança de rumo. No relatório de 2002, que avaliava o intervalo 1999 e 2002, apenas a Suzano Papel e Celulose era citada. A BCG não inclui os bancos na análise. Mas o setor financeiro viveu um ciclo de prosperidade no mundo inteiro. No Brasil não foi diferente. Embora os bancos locais sejam ainda tímidos globalmente, os últimos anos foram de forte crescimento e de concentração no setor. Hoje, o Bradesco já vale mais que grandes grupos, como Merrill Lynch e Morgan Stanley. ?No fim de janeiro, ele era o nono banco mais valioso das Américas. Recentemente, chegou à sétima posição, mas as suas ações caíram com as turbulências nas bolsas?, observa o analista da Economática Einar Rivero. ?A valorização do mercado de ações brasileiro a partir de 2003 ajuda a entender os números de hoje.? Naquele ano, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) bateu nos 22 mil pontos. Em 2007 ultrapassou 60 mil pontos pela primeira vez. A Bovespa talvez seja a face mais nítida da mudança. Há pelo menos dois anos ela já é a principal fonte de recursos para investimentos, até mais que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). No mercado de capitais, as empresas puderam expandir seus negócios, criar empregos e investir nas operações fora do País. Também foram obrigadas a se modernizar e dar mais transparência à gestão.O Banco Itaú estava entre os que mais galgaram posições no ranking de 2007 das 500 maiores companhias do mundo, elaborado pela revista Fortune. Ele pulou 127 posições, o que lhe garantiu o sexto melhor desempenho. Também teve a 15ª melhor performance em receita, que cresceu 46,8%.No ranking de 2005, o banco da família Setúbal nem sequer aparecia entre as 500. Quanto ao seu valor de mercado, o salto também é considerável: em 2008, mesmo com a queda das suas ações, ele era dez vezes maior que em 2002, quando valia US$ 5,1 bilhões.?Com o valor de mercado que atingiram hoje, os bancos brasileiros ganharam uma capacidade formidável de comprar concorrentes no exterior usando suas ações como moeda?, diz o diretor do banco de investimentos Credit Suisse, José Olympio Pereira. ?Poucas empresas brasileiras exploram isso bem.? Usar ações como moeda de troca ainda é novidade no País, mas pode se tornar rotineiro para as empresas que têm capital aberto. Na compra da Eleva pela Perdigão, ocorrida no segundo semestre do ano passado, parte do pagamento foi feito em ações da companhia. Para quitar o restante, a Perdigão fez, em dezembro, uma emissão de ações na Bolsa. Ou seja, ela subiu alguns degraus no setor mundial de alimentos sem desembolsar um tostão. A Vale deve seguir uma estratégia parecida na compra da Xstrata. Parte dos US$ 90 bilhões deve ser pago com papéis da companhia brasileira.
O Estado de S.Paulo