Empresas disputam bons engenheiros
08/10/07
São tantas as mudanças no ramo de engenharia que a Vale do Rio Doce se propôs a fazer um panorama do mercado para os universitários. Tatiana Matos, coordenadora de Treinamento e Desenvolvimento da empresa, percebeu, há dois anos, que muitos estudantes vinham desistindo dos cursos, sem ter idéia das oportunidades que estavam à espera deles. ? Por isso, criamos o programa “Profissões na CVRD”. Passamos a visitar escolas de nível superior em todos os estados onde atuamos ? diz Tatiana, adiantando também que, em dois meses, a empresa vai oferecer bolsas de pós-graduação integrais, abertas a qualquer engenheiro. ? Queremos criar interesse por obras de infraestrutura, como construção de portos e ferrovias. Cinthia Magno, outra executiva da Vale e coordenadora de Seleção e Carreira, confirma que a disputa por profissionais está acirrada: ? Como se não bastasse a disputa por profissionais que temos com Petrobras, MMX, Gerdau e Votorantim, passamos a nos preocupar com as ofertas de trabalho vindas do exterior. A Austrália, por exemplo, costuma ter uma abordagem bem agressiva, oferecendo boas propostas salariais. E, se os brasileiros talentosos encontram emprego lá fora, há estrangeiros chegando para ocupar vagas no país. Marcos Túlio de Melo, do Confea, conta que o número de homologações de registros profissionais diplomados no exterior só tem crescido. Em 2005, foram 34. Em 2006, 79. Até junho deste ano, houve 44 pedidos: ? É uma das saídas encontradas pelas empresas para preencher seus quadros. Diante da fartura de emprego, quem ganha são profissionais como o engenheiro de minas carioca Pablo Cunha, que começou a carreira como trainee na Votorantim Metais, em Goiás, trabalhou na Vale, sendo contratado depois, no Amapá, por uma empresa americana. Há dois anos, ele foi novamente chamado pela mineradora brasileira. Atua, hoje, no complexo de Itabira, em Minas Gerais. ? Quando me formei, dez dos 25 colegas da turma tinham emprego de engenheiro. Hoje, todos têm. Esse mercado de trabalho fértil para engenheiros está movimentando as universidades. A Estácio de Sá, por exemplo, abriu mais dois cursos na área, neste semestre: o de engenharia ambiental e o de petróleo e gás. A UFRJ, por sua vez, oferece mais 20 vagas no vestibular deste ano (nos mesmos cursos da Estácio de Sá) e ainda prevê mais cem para o início de 2009. É possível, ainda, que a instituição pública abra outras 120 vagas em cursos de engenharia civil, mecânica e de produção em Macaé, para atender às empresas de petróleo. Esse setor, aliás, é um caso à parte: este ano, a engenharia de petróleo teve a segunda maior relação candidato/vaga de todo o vestibular (18,2) da UFRJ, atrás somente de medicina (27,5). São dados que casam, por exemplo, com os de uma pesquisa realizada pelo escritório carioca da empresa de recrutamento Michael Page: segundo o resultado, a procura por engenheiros que atuam no setor petrolífero cresceu 30% no primeiro semestre deste ano, em relação ao mesmo período de 2006. E não é só. Outros cinco tipos de engenharias (de computação e informação; de produção; ambiental; de controle e automação, além de engenharia química) figuram entre as oito principais escolhas dos vestibulandos que farão provas para a UFRJ no mês que vem. A engenharia mecânica, com índice candidato/vaga de 8,2, teve aumento de 7% em relação ao ano passado. Para o diretor da Escola Politécnica da UFRJ, Erik Rocha e Almendra, engenharia naval e metalurgia também são setores estratégicos.
? Recebi a visita de funcionários da ThyssenKrupp, que vieram contratar jovens engenheiros para preencherem os quadros de pessoal da usina que está sendo construída em Santa Cruz. Eles enfrentam problemas, porque o setor ficou estagnado por muito tempo e o pessoal deixou de estudar metalurgia ? diz Almendra, acrescentando que dos 3,5 mil alunos de engenharia da UFRJ, 1,5 mil já estão em programas de estágio. Alguns, aliás, com salário bem alto: ? Há estagiários ganhando R$ 1,8 mil por quatro horas diárias de trabalho. Em meio a esse cenário, elevar a qualificação dos estudantes é o objetivo do professor de cálculo III da instituição Anatoli Leontiev: ? Meu esforço é para que a turma toda acompanhe o ritmo dos melhores alunos. %02
O Globo