Estatal opta entre gigantes para mina de urânio
18/01/08
A Indústrias Nucleares do Brasil (INB) vai anunciar até o final deste mês sua primeira parceria com uma empresa privada para exploração mineral. Vale do Rio Doce, Bunge Fertilizantes e Mineração Galvani estão na disputa.O acordo, que será válido para o depósito de fosfato da reserva de Santa Quitéria, no Ceará, não irá quebrar o monopólio da estatal na exploração de urânio, já que a iniciativa privada será responsável pelo fosfato da mina cearense, entregando à INB o urânio gerado como subproduto do processo exploratório.O projeto de Santa Quitéria faz parte dos planos da estatal de quadruplicar a capacidade do Brasil de beneficiar urânio, etapa essencial para processamento do combustível das usinas nucleares.De acordo com o diretor de Recursos Minerais da estatal, Luiz Filipe da Silva, a construção da usina que será instalada no local começa já em 2009, e tem capacidade estimada de produção em 800 toneladas do mineral, duas vezes mais que a capacidade de beneficiamento da única unidade de urânio existente atualmente no Brasil.De olho em Angra 3O produto será usado principalmente para abastecer a usina nuclear Angra 3, no Rio de Janeiro, prevista para entrar em operação em 2013.”Quanto ao volume de produção da reserva, últimos estudos indicam que pode ser mais do que as 800 toneladas esperadas. É certo que se este montante sofrer reajuste será para cima”, revela Silva.A previsão é de que a planta comece a operar um ano depois, em 2010. “O licenciamento ambiental para o projeto de fosfato já foi concluído inclusive para o início das obras. Já para o projeto de urânio, o licenciamento está em fase final”, conta Silva.Ao longo deste ano serão realizadas as ações relativas ao desenvolvimento de projetos e às últimas condicionantes para que o empreendimento saia do papel.Quanto à parceira a ser escolhida, a INB está analisando a proposta das três concorrentes – sete empresas foram convidadas a participar da disputa, mas apenas Vale, Bunge e Galvani entregaram propostas. A Galvani é uma empresa 100% brasileira, verticalizada na produção de fertilizante.No estudo será avaliado o valor envolvido na parceira, os pontos positivos para cada uma das partes e o know-how sobre o fosfato a ser transferido à estatal.”Como a maior utilização do fosfato é para fertilizantes e ração animal, a INB buscou uma empresa que pudesse trazer à estatal o know-how de exploração do mineral, e que fosse dar um uso final ao fosfato. O urânio, como subproduto, é o que sobra dessa mineração, os rejeitos”, explica Silva.A princípio, o acordo deve ter duração de cerca de 20 a 25 anos, prorrogáveis, dependendo da própria reserva.Meta de 1,6 mil toneladasAtualmente, a única unidade de beneficiamento de urânio existente no Brasil está em Catieté, na Bahia, e tem capacidade para 400 toneladas de concentrado do mineral por ano.As obras para sua duplicação estão em curso e devem ser concluídas em 2010, segundo projeção da INB, que é o órgão governamental responsável por essa etapa do processamento do minério.Esse projeto, somado ao da futura planta do Município de Santa Quitéria, elevaria a capacidade de beneficiamento de urânio do País para 1,6 mil toneladas anuais, como pretendem a INB e o governo federal.Na sede da INB, em Resende (RJ), uma equipe trabalha no enriquecimento do minério em caráter experimental. O objetivo é de que, também em 2010, quando a duplicação da unidade de Catieté estiver pronta, 60% do urânio usado no Brasil seja enriquecido no local.Flexibilização de monopólioCom as atenções voltadas para um possível aumento do uso da energia nuclear no País, a Comissão de Minas e Energia da Câmara dos Deputados prepara medidas para a flexibilização da exploração de urânio no País.No ano passado, o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), que representa as indústrias do setor, levou proposta à presidência da Casa com o objetivo de que as empresas privadas possam atuar na exploração, mesmo sob monopólio da União, nas atividades de comercialização e enriquecimento.Agora, de acordo com o Ibram, a novidade é que as mudanças em estudo, que seriam implementadas por meio de emenda constitucional, prevêem que a atividade seja desenvolvida pela iniciativa privada.As empresas seriam escolhidas nos moldes das licitações feitas pela Agência Nacional de Petróleo (ANP).Dessa maneira, explica o instituto, as reservas seriam arrendadas após leilões e as empresas pagariam royalties à União, fato que seria inédito para o setor de mineração no Brasil e iria além da parceria que será anunciada até o final deste mês.Para o presidente do Ibram, Paulo Camillo Vargas Penna, há um interesse mundial em torno do urânio com a perspectiva de maior uso da energia nuclear devido aos problemas ambientais e ao aquecimento global.Ele afirma que as empresas brasileiras estão muito interessadas na mineração de urânio no País. “A Vale anunciou ano passado que conseguiu uma concessão na Austrália. Certamente teria interesse em operar no Brasil”, exemplifica.Segundo Penna, outros países, inclusive Uruguai e Argentina, já adotaram medidas mais flexíveis para o urânio, devido ao grande interesse pelo minério nos últimos anos. “A demanda é muito forte e tende a continuar. A energia nuclear crescerá muito”, diz.A vantagem do Brasil, segundo ele, é que além de ter o minério, o País domina as outras etapas de beneficiamento, inclusive o enriquecimento para a produção de energia elétrica.”Podemos vender o minério já enriquecido, aumentando nossas exportações” garante Penna.A Indústrias Nucleares do Brasil (INB) vai anunciar até o final deste mês sua primeira parceria com uma empresa privada para exploração mineral. Vale do Rio Doce, Bunge Fertilizantes e Mineração Galvani estão na disputa. O acordo, que será válido para o depósito de fosfato da reserva de Santa Quitéria, no Ceará, não irá quebrar o monopólio da estatal na exploração de urânio, já que a iniciativa privada ficará com o fosfato da mina cearense, e repassará à INB o urânio gerado como subproduto do processo exploratório.O projeto de Santa Quitéria faz parte dos planos da estatal de quadruplicar a capacidade do Brasil de beneficiar urânio, etapa essencial para processamento do combustível das usinas nucleares.
DCI