Mineradoras movimentam bilhões
27/01/08
A onda de fusões e aquisições que, há pelos menos dois anos, varre o mercado brasileiro de mineração está longe de chegar ao fim. Segundo cálculos da consultoria KPMG, foram 22 operações envolvendo companhias brasileiras entre 2006 e 2007, volume superior ao registrado nos seis anos anteriores. O movimento, provocado pela disparada nos preços das commodities minerais, deve render ao País investimentos de pelo menos US$ 32 bilhões em ampliação da capacidade de produção até 2011.
Os especialistas são unânimes em afirmar que novos negócios serão anunciados nos próximos meses, principalmente no segmento de minério de ferro, responsável por 43% dos investimentos previstos para o setor, segundo dados do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram).
Um exemplo são as negociações entre a siderúrgica Usiminas para aquisição do grupo J. Mendes, que produz 6 milhões de toneladas por ano, seguindo tendência de verticalização das atividades já posta em prática pela Companhia Siderúrgica Nacional (CSN).
Jogo pesado”As empresas estão investindo brutalmente na identificação de novas jazidas”, afirma o presidente do Ibram, Paulo Camillo Penna. “Ou elas investem em exploração, que tem prazo de dez anos para dar resultado, ou compram empresas menores e aplicam capital para expandir a produção.”
A segunda alternativa tem maior visibilidade, mas Penna diz que a busca por novas reservas também está em alta, com investimentos estimados em US$ 350 milhões em 2007. “É quase quatro vezes o registrado em 2002.”
O ciclo de investimentos e consolidação é dividido entre os mais diversos minerais, mas, no mercado de minério de ferro, ganhou novas cores depois que a Vale esbarrou nos limites impostos pelos órgãos de defesa da concorrência para sua expansão no País.
Enquanto a maior mineradora nacional alça vôos no exterior ? primeiro com a compra da canadense Inco, agora com a proposta pela anglo-suíça Xstrata ?, seu quintal começa a ser invadido por concorrentes estrangeiros e nacionais, além da recém-criada MMX, controlada pelo empresário Eike Batista.
O exemplo mais recente foi a chegada da Anglo American ao segmento, com a aquisição de projetos da MMX por US$ 5,5 bilhões. A multinacional, que já explorava níquel no País, pretende atingir, em dez anos, a capacidade de produção de 100 milhões de toneladas de minério de ferro, volume equivalente ao de Carajás, a maior mina da Vale.
Busca da independência
As siderúrgicas, por sua vez, buscam maior independência dos grandes conglomerados mineiros, avalia o vice-presidente do Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS), Marco Polo de Mello Lopes. Dona da mina de Casa de Pedra, a CSN comprou, no ano passado, a Companhia de Fomento Mineral (CFM).
Já a Usiminas pretende atingir a auto-suficiência no suprimento do insumo com a J. Mendes. “A concentração das mineradoras levou a grandes aumentos de preço, motivando a busca por suprimento próprio”, explica.
“Outros grandes grupos podem chegar, como é o caso da Rio Tinto”, aponta o analista do setor de mineração do banco Brascan, Rodrigo Ferraz. O grupo, hoje sofrendo pressões para uma fusão com a BHP, controla uma mina em Corumbá, em Mato Grosso do Sul, mas tem dificuldades para expandir o projeto, devido a restrições para a atuação de estrangeiros em áreas de fronteira. De todo modo, o mercado não descarta a possibilidade de associação com uma companhia menor.
Hora de comprarO analista do Brascan, porém, lembra que as melhores chances de aquisição estão se esgotando. Além disso, a corrida por novos ativos inflacionou o mercado brasileiro.
Jornal de Brasília