Minério e carvão podem elevar preço do aço em até 20%
20/02/08
O ajuste de 65% do minério de ferro não é a única preocupação das siderúrgicas na hora de calcular o aumento do aço para este ano. Também com oferta reprimida por fatores pontuais, o carvão deve subir entre 50% e 80% e puxar uma alta de até 20% no preço do aço em 2008.
Algumas siderúrgicas se anteciparam aos ajustes dos insumos, como ArcelorMittal, Nippon Steel e Gerdau, e aumentaram o valor dos seus produtos entre 10% e 20%, antes mesmo do anúncio do novo preço do minério de ferro, feito na segunda-feira, pela Vale.
O minério de ferro produzido pela gigante brasileira no Estado de Minas Gerais foi ajustado em 65%, enquanto o produto da mina de Carajás, no Estado do Pará, subiu 66% e 71%, dependendo do acordo feito com siderúrgicas da Europa e Ásia, respectivamente.
Mas outros ajustes do aço deverão surgir ao longo do ano, avaliam analistas. “As empresas vão testando o mercado, e se já conseguiram ter aumento antes do ajuste do carvão e do minério, a leitura que a gente faz é de que as perspectivas de crise por causa da economia norte-americana nem são tão graves assim, tem espaço para repasse”, afirmou o analista da Prosper Corretora Alan Cardoso.
Em uma estimativa preliminar sobre possíveis impactos nas siderúrgicas brasileiras, um analista que não pode ser identificado porque o seu banco participa do “pool” de um possível empréstimo para a Vale comprar a Xstrata, calcula que a Usiminas deverá fazer pelo menos dois aumentos de preço este ano, no total de 17%.
“Com esse aumento de 65% (do minério), insumo que representa 13% do custo da Usiminas, e o ajuste de cerca de 50% esperado para o carvão, o aumento da Usiminas deve ser em torno dos 17% no ano”, afirmou.
Ele concorda que a tese de uma forte crise da economia norte-americana, que poderia reprimir ajustes elevados de preços, está cada vez mais afastada do setor siderúrgico. Lembrou que esse segmento hoje conta com a força do consumo na China e outros países da Ásia, que continuam em crescimento.
“O ajuste do minério saiu antes do que se esperava, e se as siderúrgicas não esperaram para ver como vai ficar a economia norte-americana é porque sentem que vão conseguir repassar os preços, ou seja, a crise não é tão grande”, disse o analista.
Entre as siderúrgicas que negociam nas bolsas de valores e que são alvo das análises dos especialistas, a Companhia Siderúrgica Nacional é uma das mais protegidas, por contar com minério próprio e com isso ter maior margem.
“Ela ganha nas duas pontas, com a alta do minério e do aço”, observou um analista, enquanto as empresas do grupo Gerdau utilizam sucata, insumo que demora a sentir mais o reflexo do aumento do minério de ferro.
Para o analista do ABN Amro Pedro Galdi, será fundamental para as siderúrgicas a partir de agora cuidarem muito bem da gestão de custos, já que existe pressão de alta de preços por todos os lados e incertezas em relação ao crescimento da economia mundial.
“Já já vamos ver aqui o movimento que já está acontecendo lá fora, de choradeira dos siderúrgicos, das montadoras de automóveis, mas sem dúvida vai ter repasse (de preços)”, afirmou o especialista, que projeta ajustes mais tímidos para o aço, pelo menos em um primeiro momento, entre 5% e 10%.
Reuters