Minério pode estar na mira da crise
25/01/08
A crise norte-americana e a possibilidade de recessão e queda no consumo podem afetar as exportações de todo o mundo. De acordo com especialistas mineiros, as embarcações do Estado podem ter queda tanto por uma redução na comercialização direta com os Estados Unidos quanto pela inibição do mercado chinês, que vende manufaturas fabricadas com insumos brasileiros aos Estados Unidos (EUA) – que responde por 21% das compras chinesas.Com isso, as vendas internacionais de Minas para o país asiático – principalmente minério de ferro – podem ser afetadas. Hoje, a China é o principal destino das exportações do Estado.De acordo com os últimos dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), do total exportado por Minas em 2007, cerca de US$ 18,355 bilhões, 15,99% (US$ 2,934 bilhões) foi comprado pela China e 13,81% (US$ 2,535 bilhões) pelos EUA. Representando quase 30% das vendas externas mineiras, o futuro desses dois países deve ter grande influência sobre o desempenho dos embarques do Estado.O professor da Universidade Fumec, Walter Alves Victorino, acredita que com a possível redução do consumo americano haverá impacto em toda economia, tendo em vista que os EUA são os maiores compradores do mundo. “No caso de Minas Gerais, que tem o país norte-americano como segundo principal destino de vendas externas, certamente vai haver impacto direto”, explicou.Somado a isso, ele acrescenta que ainda há os impactos indiretos, que podem ser mais graves. Segundo Victorino, os reflexos sobre a China podem trazer muitos estragos para todos os países que mantêm negócios com o país. Minas que tem como principal país de destino a China, que o abastece principalmente com commodities, que são transformados em manufaturas e vendidos ao país norte-americano, também pode ser afetado. “Uma queda nesse consumo vai abalar as relações do Brasil com a China”, analisou.O gerente do Centro de Negócios Internacionais da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Carlos Abijaodi, informou que os principais produtos vendidos para os EUA são principalmente café e produtos siderúrgicos semimanufaturados como tubos, chapas, tarugos, além de aparelhos, máquinas e instrumentos mecânicos.Segundo ele, uma redução no consumo norte-americano afetará a todos e deverá reduzir as vendas de Minas para os EUA. “Mas esse pode não ser o reflexo mais grave, já que os norte-americanos já vinham reduzindo suas compras do Estado, inclusive perdendo a liderança para a China no ranking dos maiores compradores de Minas. Já vínhamos ampliando esforços em diversificar os destinos dos nossos embarques”, informou.Disputa – Abijaodi lembrou que a pior conseqência pode vir do comportamento da China, que pode dimunir a compra de insumos brasileiros e, conseqentemente, as vendas para os EUA. E, também trará impactos caso o país asiático resolva manter o ritmo de produção e ir em busca de outros mercados para compensar a redução das vendas aos norte-americanos. “Isso também pode afetar Minas e o Brasil, já que os chineses podem roubar parte do mercado que já conquistamos”, avaliou.Quanto às medidas que devem ser tomadas, o dirigente disse que o que se pode fazer é continuar diversificando os destinos das exportações e se lançar em novos mercados. “E, se a economia brasileira continuar com os mesmos índices de crescimento, destinar parte das perdas com exportações para alimentar a crescente demanda do mercado interno nacional”, concluiu.Mercado interno poderá absorver parte das perdas
Apesar de muito especulada, a crise norte-americana que já vem afetando o ritmo do mercado de ações de todo o mundo, ainda não pode ser claramente dimensionada. Mas, alguns especialistas e representantes de segmentos que mantêm negócios com o país já tentam precisar os reflexos da tão temida recessão.O professor da Faculdade Ibmec, Marcos Renato Silva Xavier, acredita que se as previsões se confirmarem não há como precisar perdas em um segmento em especial, e sim nas vendas externas de forma generalizada. Mas, ele alertou que diferente do que acontecia em outras épocas, quando a vendas internacionais se restringiam às sobras de produção, atualmente não temos mais toda essa folga de produção, já que o mercado interno, movido pela ampliação da renda e oferta de crédito, está bastante aquecido.Na visão de Xavier, hoje o crescimento econômico brasileiro está ligado ao crescimento do mercado interno, o que, em caso de permanência dos bons fundamentos, pode garantir que as possíveis perdas com exportações possam ser transferidas para a demanda interna, garantindo crescimento em 2008 para a economia brasileira.O setor mineral, que responde por grande parte da pauta mineira, avalia o momento com cautela e necessidade de análise. Foi o que informou o presidente do Sindicato da Indústria Extrativa de Minas Gerais (Sindiextra-MG), José Fernando Coura, que acredita que ainda é cedo para dimensionar não só a crise americana como os reflexos dela. “Nesse momento não há nenhum indicativo de que possa haver impacto no segmento mineral, já que a demanda está muito aquecida e não há, por exemplo, produção de minério de ferro suficiente no mundo, o que deve garantir preços altos e manutenção no crescimento das vendas”, revelou.O presidente do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram) e vice-presidente do Sindicato Nacional da Indústria da Extração do Ferro e Metais Básicos (Sinferbase), Paulo Camillo Vargas Penna, disse que se a recessão americana se confirmar, não há como fugir de uma redução na demanda mundial. Ele apontou as medidas que vêm sendo adotadas pelo governo dos EUA como injeção de recursos e redução nos juros como tentativas de reverter o quadro e normalizar a situação.Contratos – Apesar disso, o presidente do Ibram acredita que o segmento vai demorar mais a sentir os possíveis reflexos da crise, já que o principal produto comercializado mundialmente – o minério de ferro – tem contratos de longo prazo e também porque não há estoques do insumo em nenhum lugar do mundo. “A China está em franca expansão e com alta demanda. E, para sustentar o crescimento não pode reduzir drasticamente o consumo que está tão aquecido”, explicou.Penna informou que ainda não é o momento de traçar um quadro pessimista ou de acender a luz amarela. “A demanda é bem superior à oferta. A situação não é alarmante. Temos uma zona de conforto para o setor, até porque o consumo interno está elevado”, avaliou.
Diário do Comércio – MG