MST interdita Estrada de Ferro Carajás
08/11/07
Líderes do movimento já confirmaram o desbloqueio, mas a CVRD nega a informação Na manhã de ontem, cerca de 5.500 integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) invadiram pela terceira vez em menos de um mês, a Estrada de Ferro Carajás (EFC), em Parauapebas, no sudeste do Pará. No momento da invasão, duas locomotivas, com 126 vagões vazios, foram cercadas por cerca de 300 sem- terra e um maquinista e mais quatro funcionários da Vale foram feitos reféns por aproximadamente 30 minutos. De acordo com nota divulgada pela Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), os funcionários que foram reféns durante a invasão relataram que os sem terra estavam vestidos de preto, encapuzados e portando foices, picaretas, pedaços de pau e facões, que foram usados para cortar os mangotes (sistema de frenagem) das locomotivas e golpear as composições. Segundo a Vale, os integrantes do MST ainda tentaram incendiar os vagões. A acusação consta em boletim de ocorrência registrado pela mineradora, também com base nos relatos de reféns. ?Um dos invasores deu a ordem para atear fogo nas locomotivas. Os invasores obrigaram o relator [o maquinista] a avisar, via rádio, o controle da ferrovia que o grupo iria armazenar embaixo das locomotivas gasolina, óleo diesel e entulho?, diz o relato de um dos reféns no boletim de ocorrência. A nota da CVRD informa também que está em vigor a liminar concedida em 17 de outubro pelo juiz federal Francisco de Assis Garcês Castro Júnior, que garante a reintegração de posse da ferrovia à empresa e determina ao Ministro da Justiça a imediata disponibilização de efetivo da Polícia Federal para execução da medida e à governadora Ana Júlia Carepa, que ela disponibilize, no prazo máximo de cinco dias, um número de policiais militares condizente com a de ocupantes para auxiliar a Polícia Federal na ação. A liminar prevê ainda multa diária de R$ 10 mil caso não seja efetivada a desocupação da área. REIVINDICAÇÕES ? Ouvido pela reportagem do DIÁRIO no local, Ulisses Manaças, da coordenação estadual do movimento, disse que nunca foi desejo do MST ocupar a Estrada de Ferro, mas como, segundo ele, o governo do Estado abandonou a mesa de negociações, não restou outra alternativa a não ser radicalizar. Ainda de acordo com Ulisses, as principais reivindicações do movimento são infra-estrutura, construção de escolas em assentamentos, eletrificação rural, crédito para produção e desapropriação de nove fazendas que estão ocupadas há muitos anos pelo MST. Perguntado sobre por que resolveram ocupar a ferrovia, já que as principais reivindicações do MST não têm relação com a companhia, Ulisses Manaças explica que a manifestação é uma forma também de cobrar do governo o aumento no percentual da CFEM ? Contribuição Financeira de Extração Mineral ?, que hoje é apenas de 2%.
REPRESSÃO ? O coronel Carlos Augusto Oliveira da Silva, titular do 2º Comando de Policiamento Regional, informou que a determinação para a intervenção da Polícia Militar, neste caso, vem da Secretaria de Segurança Pública do Estado, o que até o final da tarde de ontem ainda não havia sido feito. Segundo o coronel Carlos, por enquanto a PM está esperando o esgotamento dos canais de negociação e o acionamento da Polícia Federal para a desocupação. Caso seja necessário, primeiramente será utilizado o contingente policial de Parauapebas para a atuação da PM. DIÁLOGO – A Secretaria de Segurança Pública (Segup) esclarece que, por determinação da governadora Ana Júlia, tem acompanhado de perto todo o conflito que envolve as pautas do MST com o Governo Federal, Governo do Estado do Pará e a CVRD. A Segup afirma que o Estado manteve sempre o diálogo com os movimentos sociais para garantir o respeito aos direitos humanos, dentro da legalidade e da constitucionalidade do Estado pleno e democrático de direitos. Hoje, dia 8, os Governos Federal e Estadual encaminharão representantes para a reunião de negociação que deve acontecer por volta de 14 horas no prédio da Prefeitura de Parauapebas, com 21 lideranças do MST. Representarão o Governo do Estado os secretários André Farias, da Integração Regional, Mário Cardoso, da Educação, José Benatti, do Iterpa, Helena Nahum, coordenadora de Relações com o Movimento Social, Maurílio Monteiro, secretário de Ciência e Tecnologia e o coordenador de Comunicação Social, Carlos Bortolaia. Pelo Governo Federal participarão o presidente do Incra e dois representantes do Palácio do Planalto. Vale não confirma desbloqueio Segundo o coordenador estadual do MST, Charles Trocate, a ferrovia foi liberada às 18h30 de ontem, após uma assembléia entre os acampados. O movimento aceitou participar, hoje às 14h, de uma reunião com diversos representantes dos governos estadual e federal. ?Nós não temos mais nenhuma intenção de nos manter lá. A pauta da reunião é a mesma prevista para as reuniões de novembro, terra e infra-estrutura para os acampados?, disse Trocate. Mas segundo a assessoria da CVRD, até às 23h de ontem, a informação de que a linha havia sido desocupada não foi confirmada pela polícia, e os trens permaneceram parados na ferrovia.
Diário do Pará