O geólogo que, por acaso, descobriu Carajás
30/12/07
Por razões de segurança, o helicóptero em que viajava Breno Augusto dos Santos há 40 anos foi obrigado a fazer um pouso forçado no meio do mato, enquanto sobrevoava o Sudoeste do Pará. Ao aterrissar em uma das inúmeras clareiras na região do Araguaia-Xingu, o geólogo percebeu que o solo tinha uma cor marrom-avermelhada. Enquanto esperava o piloto encher o tanque com a reserva de óleo estocada na aeronave e fazer alguns procedimentos técnicos, Breno martelou um bloco de rocha. Descobriu, surpreso, que era minério de ferro. Não passou pela cabeça do jovem geólogo, então com 27 anos, que a descoberta acidental transformaria ao mesmo tempo sua vida, a da empresa em que trabalhava e a do País. O recém-formado havia acabado de descobrir Carajás, onde estava escondido o maior complexo de minério de ferro do mundo. Aí estava a explicação para tantas clareiras, que, originalmente, tinham sido atribuídas aos índios da região. As clareiras não eram resultado da ação do homem, mas da própria natureza, já que um solo rico em minério de ferro não permite o crescimento de grandes árvores, apenas vegetação de cerrado.A potência mineral de Carajás foi desvendada em 31 de julho de 1967, e talvez tenha sido a última epopéia romântica da geologia no Brasil. É que no lugar de equipamentos de alta precisão e imagens de satélites, Breno estava munido apenas de um martelo, como faziam os antigos bandeirantes que, a partir do século XVI, penetraram nos sertões brasileiros em busca de riquezas minerais.Quatro décadas depois, Carajás continua sendo um eldorado econômico. Seu produto alimenta a avidez consumista do mundo por commodities minerais. Em outubro último, Carajás rompeu a barreira de um bilhão de toneladas de minério de ferro. Toda essa produção vem sendo monitorada de um centro de operações, de proporções acanhadas para o gigantismo do negócio: uma sala pequena repleta de computadores por todos os lados.
Metas bilionárias na Vale
Este ano, a Vale, atual dona da reserva gigante de ferro, vai produzir cerca de 100 milhões de toneladas do minério. A meta para 2008 é chegar a 103 milhões de toneladas e, nos dois anos seguintes, atingir um pico de 130 milhões de toneladas. O esforço para chegar lá já começou a ser feito e vai consumir investimentos de US$ 1,6 bilhão até o fim da década. Carajás absorve 30% dos investimentos totais da Vale. “O potencial mineral da região está longe do fim. A mais nova mina da Vale, a de Serra Sul, a 70 quilômetros de Carajás, tem potencial para produzir mais 17 bilhões de toneladas de minério de ferro”, comemora José Carlos Soares, diretor de Ferrosos do Norte da Vale, que conheceu Breno nos anos 70, quando os dois trabalharam juntos na região.
A Crítica – AM