País terá mais térmicas a carvão em 10 anos
09/07/07
O Plano Decenal para o período 2007-2016, divulgado na semana passada, evidencia um aproveitamento bem maior do carvão para a geração de energia elétrica. Nos dois cenários traçados pelo planejamento desenvolvido pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), são considerados uma adição de 1.100 megawatts (MW) e de 1.750 MW de capacidade instalada oriunda de termelétricas movidas a carvão mineral. No plano anterior, para o período 2006-2015, a potência adicional a partir da instalação de novas usinas a carvão não passava dos 350 MW. Com isso, a participação do carvão na matriz termelétrica nacional vai pular dos 9,4% verificados em janeiro de 2007 para 14,1% em 2016. Ao mesmo tempo, o gás natural, responsável em janeiro por 59,1% da capacidade termelétrica instalada, verá sua participação ser reduzida para 48,1%. Contribuirá também para a queda do gás na matriz termelétrica nacional o significativo crescimento do bagaço de cana, cuja participação em janeiro deste ano não passava de 0,4% do total, e que chegará a 11,5% em 2016. O Plano Decenal 2007-2016 indica que a participação termelétrica na matriz energética vai aumentar, se comparada ao que é verificado hoje em dia. Ao final do ano passado, a geração hídrica tinha, na produção total de energia 84% de participação, contra 16% de base térmica. A projeção para 2016, no chamado cenário inferior, com PIB médio de 4,2% ao ano, é de 79% para hidrelétricas e de 21% para térmicas. Já o cenário superior, com PIB médio de 4,9% ao ano, estima 76% de potência instalada em hidrelétricas contra 24% de geração térmica. As dificuldades de oferta de hidrelétricas em quantidade significativa nos leilões de energia será determinante para o aumento da participação da energia térmica na produção total de eletricidade, avaliou o presidente da EPE, Mauricio Tolmasquim, Presidente da Associação Brasileira do Carvão Mineral (ABCM), Fernando Zancan defende um aproveitamento para o que ele classifica de `mais nobre` para o gás natural. Para ele, deve-se buscar outras formas de se incrementar a capacidade de geração elétrica, e pelo preço e perspectivas de volume a ser encontrado, o carvão surge como uma das primeiras opções. Zancan cita relatório recente divulgado pelo World Energy Council, que traz pesquisa feita junto a 50 dos principais executivos do setor energético em todo o mundo. A avaliação dos empresários é de que os preços, tanto do petróleo quanto do gás natural, não tendem a cair nos curto e médio prazos. Para o gás, por exemplo, oito entre dez executivos estimam que o insumo será cotado entre US$ 10 e US$ 15 por milhão de BTU. Isso, segundo Zancan, inviabilizaria o uso do gás para gerar energia elétrica, pois a tarifa final para o consumidor ficaria bastante elevada. `O carvão é mais barato e abundante, além de não ter problemas em relação à segurança energética. É uma opção bastante viável. O gás é atualmente até seis vezes mais caro do que o carvão`, afirma, destacando que a perspectiva é de que a demanda mundial do carvão cresça, em média, 2,8% ao ano nos próximos cinco anos. CenárioFernando Zancan lembra que, em função da segurança energética, os Estados Unidos vão intensificar a utilização de carvão mineral nos próximos anos. No Plano Decenal, a EPE também considera esse cenário. `A despeito dos problemas ambientais causados pela produção e pelo consumo do carvão mineral, os EUA planejam intensificar o seu uso nos próximos anos. Um dos motivos é que dois terços da demanda de energia do país é atendida por petróleo e 58% da oferta interna de tal fonte é importada. Como o país vem enfrentando problemas para manter este nível de importação, a segurança do abastecimento fica comprometida. A intensificação do uso do carvão neste caso livraria os americanos desta dependência`, informa o documento. O Brasil possui reservas estimadas de 32 bilhões de toneladas, dos quais pelo menos 89% estão situadas na Região Sul do País. De acordo com a EPE, se considerado um fator de recuperação das minas de 60%, um percentual aproveitável de 50%, um fator de capacidade médio de 55% e uma eficiência de 35%, as reservas nacionais de carvão seriam suficientes para suprir termelétricas que totalizem 28 mil MW, durante 100 anos. Atualmente, o Brasil tem capacidade instalada de 1.415 MW por meio de sete termelétricas instaladas na Região Sul, o que representa apenas 1% da potência elétrica instalada. Em construção, com energia já contratada, está a usina Candiota 3, com 350 MW de capacidade instalada. Outros cinco projetos no Sul, que totalizam 2.128 MW de potência total, estão no escopo da EPE, em estudos. Fernando Zancan afirma que há possibilidades de novas descobertas de carvão, nas regiões Norte e Nordeste, mas que a falta de pesquisas faz com que esse possível potencial não seja conhecido. Segundo o presidente da ABCM, há pelo menos 20 anos não são realizadas pesquisas do tipo. `Há ocorrência de carvão no Pará, e na Bacia do Parnaíba, no Piauí e no Maranhão. Mas isso não foi investigado a fundo. Não conhecemos o potencial do carvão brasileiro, apenas o da Região Sul`, observa. É no Nordeste que duas empresas têm planos de instalar novas termelétricas movidas a carvão. A Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) e a MMX já anunciaram interesse em construir unidades desse tipo na costa brasileira, e vem desenvolvendo estudos para tal fim. A matéria-prima viria de outros países. Outra nova perspectiva em relação à produção de carvão mineral para gerar eletricidade é a venda de energia para os países do Cone Sul. No momento, boa parte da energia que está sendo passada para a Argentina é originária das termelétricas a carvão. A Tractebel e a CGTE já anunciaram planos de construir novas usinas, no Sul do País, cuja geração seria voltada para atender o mercado uruguaio. Uma questão que, segundo Fernando Zancan, implica em um menor aproveitamento da energia gerada a partir do carvão nos leilões de energia, que é o preço-teto de R$ 140, vem sendo discutida por agentes do setor junto ao Ministério de Minas e Energia (MME). Zancan conta que a proposta é que os contratos para o fornecimento de energia térmica a carvão sejam alongados, para que o preço possa ser reduzido.
Jornal do Commércio – RJ