Uma nova corrida do ouro
22/10/07
A Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) articula nos bastidores uma forma de retomar a secular atividade da mineração de ouro, abandonada por ela há tanto tempo que nem sua própria assessoria de comunicação soube informar ao certo quando foi a última vez que a empresa explorou o metal. O pequeno município de Caeté, a 49 km de Belo Horizonte e com apenas 8.550 habitantes, é um dos mais sondados pela mineradora para o início das operações no Estado. Desde 2000, a cidade recebeu seis pedidos de sondagem feitos pela Vale ao Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) – três só neste ano.Os municípios mineiros de Diogo de Vasconcelos, Piranga e Barão de Cocais também estão na mira das pesquisas da mineradora. Em Minas a empresa pretende pesquisar ouro, inicialmente, em 8.261 hectares, conforme o DNPM. Exatos 135 pedidos de concessão/requerimento de lavra, sondagens e autorização de pesquisa foram feitos pela companhia em 2007 junto à autarquia federal, dos quais dez em Minas Gerais e o restante em Goiás. A Vale não está sozinha em Caeté. Dados do DNPM mostram que existem 55 pedidos de sondagens sobre ouro feitos neste ano à autarquia federal. Alguns foram protocolados pela Mineração Serras do Oeste (MSol), que detém direitos minerários em Caeté, sendo alguns rejeitados anos atrás pela própria CVRD. É para já
“A Vale tem pressa”, informou um executivo da mineradora. A urgência da companhia não é difícil de se explicar: o preço do ouro expandiu mais de 270% nos últimos dez anos, ficando em US$ 756,40 a onça na semana passada (cada onça troy equivale a 31,1 gramas). Além disso, o aumento da participação do negócio de nãoferrosos no faturamento faz parte da estratégia da empresa, e o ingresso do ouro contribuiria para essa finalidade. A assessoria de imprensa da mineradora confirma a existência das pesquisas de ouro, mas ressalta que são “procedimentos embrionários”. “Já passou da hora de a Vale voltar a explorar ouro”, analisa o consultor e ex-presidente da companhia, Francisco José Schettino. “Aonde há fumaça, há fogo. A Vale do Rio Doce não faz pesquisas por fazer”, salienta o presidente da Associação dos Municípios Mineradores de Minas Gerais (Amig) e prefeito de Itabirito, Waldir Salvador. Minas Gerais possui 40% das reservas nacionais de ouro, de 3.346 toneladas, segundo dados do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram). Produção nacionalO Brasil é o 13º maior produtor mundial de ouro e 83% da sua produção são exportados, sobretudo para os Estados Unidos (89%). O metal lavrado em solo tupiniquim é empregado basicamente no mercado financeiro (como investimento), indústria metalúrgica e joalherias. Dos US$ 28 bilhões de investimentos anunciados na mineração até 2011, conforme levantamento feito pelo Ibram, US$ 989 milhões serão aplicados na exploração de ouro. Clique aqui e saiba mais informações sobre o ouroPrefeitura administra anúncio de exploração de minério de ferro A informação de que a Companhia Vale do Rio Doce pesquisa a viabilidade de extrair ouro em Caeté é novidade para o poder público municipal. A única notícia que a prefeitura tenta administrar é o anúncio da instalação do complexo Maquiné-Baú (de minério de ferro) na cidade. O empreendimento está orçado em US$ 2,2 bilhões, ficará entre Caeté e Santa Bárbara e o início das operações está previsto para 2011. Maquiné-Baú terá capacidade para extrair 24 milhões de toneladas de minério de ferro por ano, praticamente a mesma quantidade de Brucutu, em São Gonçalo do Rio Abaixo e Barão de Cocais. O projeto será aprovado ou vetado no próximo ano, quando sua análise de viabilidade for apresentada ao conselho de administração da companhia. Mas o frisson que a prefeitura se mobiliza em evitar é latente no município. A população dá como certa a vinda da mineradora, que dará a Caeté uma definitiva vocação econômica. ?Não temos hoje uma economia definida, mas desordenada?, observa o secretário de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente do município, René Renault. ?Aqui os produtores não têm tecnologia. O dinheiro que ganham mal dá para o próprio sustento, e ainda geram grande passivo ambiental?, salienta.
O Tempo