Vale e China acirram briga por valor de minério
17/01/08
A Vale do Rio Doce e a chinesa Baosteel vivem um momento de amor e ódio em suas relações comerciais. Por um lado, segundo jornais australianos, a Baosteel, que vem liderando as negociações sobre o novo preço do minério de ferro entre as siderúrgicas chinesas, suspendeu as negociações, por conta da tentativa de reajuste na casa dos 50% das principais mineradoras – Vale, Rio Tinto e BHP Billiton. Por outro, Vale e Baosteel receberam ontem o aval do Cade para tocarem em parceria seu projeto siderúrgico no estado do Espírito Santo (leia mais na página A5).Ainda ontem o executivo-chefe da divisão de minério de ferro da Rio Tinto, Sam Walsh, negou a informação. Segundo ele, o processo está em andamento. “As negociações estão lentas, mas prosseguindo. A notícia de que as negociações estão paradas são absolutamente falsas”, afirmou. O chefe de compras de matérias-primas da Baosteel também negou que tenha suspendido as negociações.Procurada pelo DCI, a Vale afirmou que não comentaria o assunto. A mineradora possui em sociedade com a Baosteel um projeto para construir uma usina de placas em Anchieta (ES), com investimentos de cerca de US$ 3,5 bilhões.Segundo o jornal australiano Australian Financial Review, um executivo da Anshan Iron & Steel Group, segunda maior siderúrgica da China, confirmou que a Baosteel, que representa as empresas do país no processo, interrompeu as negociações.Um operador da Bolsa de Metais de Xangai observou que antes do início das conversações os chineses estavam dispostos a aceitar um aumento de até 30% nos preços. “Mas as mineradoras pediram por um ajuste de 50% direto, então as negociações emperraram”, afirmou.A China é o maior comprador de minério de ferro no mundo. A fatia das compras chinesas nas vendas da Vale, por exemplo, representam praticamente um terço do total (ver infográfico). No ano passado foram os chineses que fecharam o primeiro contrato, ainda no final de 2006, com reajuste pouco acima de 10%.Para Paulo Camillo Vargas Penna, presidente do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), essas ações fazem parte do jogo da negociação. “Mas há interesse tanto do comprador quanto do vendedor para acertar os contratos. Um não vive sem o outro”, salientou.Normalmente os contratos são fechados no início do ano. Mas já houve em casos em que as negociações se arrastaram até junho. Segundo Penna, elas não devem se estender tanto este ano, uma vez que não há estoque de minério de ferro no mundo.O executivo prefere não fazer previsões de quando as negociações podem se encerrar e nem de quanto será o reajuste. E salientou que a demanda aperta o comprador neste ano. “O mundo está demandando muito minério de ferro. Os contratos estão nos limites das capacidades”, afirmou.Mas, segundo agências internacionais, traders chineses sugeriram que as usinas chinesas irão adiar o máximo possível qualquer discussão sobre preço. Elas esperam que uma economia global em queda, por conta da crise nos Estados Unidos, impulsione a sua posição nas negociações.Outro complicador é o anúncio da BHP de que faria uma oferta pela Rio Tinto. A empresa tem até 6 de fevereiro para fazer a oferta, dando aos chineses um incentivo para esperar até o prazo final.Condições favoráveisO diretor financeiro da Rio Tinto, Guy Elliot, afirmou que as condições de mercado para negociação de contrato de minério de ferro estão “muito favoráveis”.”A China e a Índia vão precisar de uma quantidade imensa de aço nos próximos anos”, disse Elliott. Os preços do minério de ferro vendido por meio de contrato de fornecimento anual triplicaram nos últimos cinco anos devido ao aumento da demanda por parte da China, e poderão avançar 50% que vem, disse o Lehman Brothers Holdings.As importações do minério pela China, maior usuários mundial da commodity, devem dobrar nos próximos seis anos, afirmou Sam Walsh, da área de minério de ferro do Rio Tinto.Foco no mercado à vistaA Rio Tinto informou que pretende triplicar as vendas de minério no mercado à vista este ano para tirar proveito da alta dos preços. A maior parte do volume mundial dessa matéria-prima bruta é comercializada sob contratos anuais a preços fixos. O aumento nos preços à vista do minério de ferro praticados na China sinaliza o potencial para reajustes adicionais nos preços dos contratos, disse Walsh.A empresa anunciou um plano “conceitual” para triplicar a produção de minério de ferro para mais de 600 milhões de toneladas por meio da expansão de suas operações em Pilbara e de projetos em Corumbá (MS), além de Simandou, na Guiné, país do oeste da África.
DCI