Volume exportado pelo País fica abaixo da média mundial
25/02/08
Os resultados positivos das exportações brasileiras embutem um efeito ilusório e é preciso ver o que existe por trás dos números. O crescimento dos preços das commodities mascaram um componente importante. Do total de 16% de aumento das exportações no ano passado, 11,5% resultam de reajustes de preços e somente 5% representam incremento de volume , calcula Roberto Giannetti da Fonseca, diretor do Departamento de Relações Internacionais e Comércio Exterior da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). `Este não é um crescimento que a gente possa ver como real, físico da produção. É simplesmente de valor. Não gera emprego, não gera benefícios para a população. Ao contrário, traz prejuízo porque as pessoas consomem alimentos mais caros`, afirma Fonseca. Os aumentos nos preços internacionais do minério de ferro, que puxam os resultados de empresas como a Companhia Vale do Rio Doce (Vale), se traduzem em mais dividendos para os acionistas, mas não se convertem em vagas nas linhas de produção, comenta Fonseca. A média mundial em volume de exportação é de 7% e o Brasil está 2 pontos percentuais atrás dos demais países. Esta tendência se mantém neste início de ano e está expressa no levantamento da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex). Os números apontam que as exportações em janeiro de 2008 registraram um salto de 20,7% em valor, comparadas a igual período do ano passado, e cresceram 0,2% pelo quantum vendido para o mercado externo, ou seja, em volume embarcado. A retração do dólar, que atingiu patamares baixos na semana passada, ampliou seu impacto sobre o setor produtivo. De acordo com Fonseca, o câmbio afeta a competitividade das indústrias, os investimentos e pressiona os preços cotados em real, com base na variação da moeda norte-americana. Fonseca assinala que `o real foi o que mais valorizou em relação ao dólar do que todas as moedas. E não foi pouco. A média de valorização das outras moedas em relação ao dólar nos últimos dois anos foi de 19% e a do real foi de mais de 30%. O real está afetando os exportadores brasileiros mais do que qualquer outra moeda`. Na avaliação do economista Celso Grisi, professor da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo, o ritmo forte de entrada de capitais no País necessariamente joga as cotações para baixo. `Não há procura para uma oferta tão grande`, diz Grisi. As commodities, principalmente as agrícolas, continuarão com os preços elevados porque os estoques estão muito baixos, o câmbio sobrevalorizado e a área plantada não expandiu. `Não está havendo um ajuste de oferta na proporção que os preços indicam. Isso vai fazer com que os preços elevados das commodities agrícolas se sustentem muito mais do que as minerais e de energia, paralelamente`, comenta Fonseca. O aquecimento da economia mundial se deve também ao surgimento de um novo pólo de crescimento. A China e os demais países asiáticos respondem atualmente, em poder aquisitivo, a cerca de 15% da economia mundial, o que equivale ao Produto Interno Bruto (PIB) da Europa, declarou o economista Yoshiaki Nakano, diretor da Escola de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV) . `A China poupa metade do que produz e está financiando o consumidor norte-americano`, assinala. Para o Brasil, o mercado asiático ganhou relevância e superou os Estados Unidos como destino das exportações. Fonseca, da Fiesp, acrescenta que 19,1% das vendas externas brasileiras tem como destino países da Ásia, e 15,6% seguem para o mercado norte-americano. Este deslocamento das exportações deixa o País menos exposto aos efeitos da crise norte-americana e de seu impacto sobre o consumidor dos EUA. Esta proteção, no entanto, ainda é parcial na avaliação de Fonseca. `O país é muito pesado para que ninguém sofra conseqüências de sua economia`.
Gazeta Mercantil